Entrevistas

Entrevista: Diretor Executivo da ANDA, David Roquetti Filho, fala sobre os desafios do mercado brasileiro de fertilizantes

 

David Roquetti Filho, Diretor Executivo da ANDA, falou em entrevista ao GlobalFert sobre o mercado nacional de fertilizantes e sobre a visão da ANDA em relação  ao Nitrato de Amônio.  

David é Engenheiro Metalurgista pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Mestre pela Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV), dentre outros cursos de especialização. Além de Diretor Executivo da ANDA desde agosto de 2010, preside a Câmara Setorial de Insumos Agrícolas e Pecuários da Secretaria de Agric. de SP, atuando como um dos Diretores de Departamento do DEAGRO-FIESP.

1. A ANDA foi criada com o objetivo de estimular a produção e o consumo de fertilizantes no Brasil. Qual é a visão da Associação em relação à produção brasileira de fertilizantes? A isenção da tarifa que recai sobre os fertilizantes produzidos no Brasil seria uma forma de incentivar os investimentos?

A produção brasileira de fertilizantes sempre teve um essencial papel na oferta de fertilizantes ao mercado brasileiro, principalmente até o ano de 1999, quando ainda superava as importações. 

A tabela 1 abaixo mostra a evolução da Relação Importação e Produção Nacional de NPK no Brasil, medida pela relação entre as TGCA’s de importação e produção nacional: 

 

TGCA
(% a.a.)

Relação
(I/PN)

Período

Importação

Produção Nacional

1989 a 1999

11,54

3,41

3,38

2000 a 2015

5,38

0,9

5,98

1989 a 2015

5,98

2,12

3,99

          Tabela 1 

De 1989 a 1999, quando a produção nacional superava a importação, a velocidade de importação era 3,38 vezes mais rápida que a produção nacional, passando para 5,98 vezes a partir de 2000, no período de 2000 a 2015, quando o volume de importação passou a superar o da produção nacional. 

A tabela 2 abaixo mostra uma visão geral da oferta de fertilizantes minerais no Brasil no período de 2014 a 2015: 

Conforme exposto, embora a velocidade de importação esteja aumentando ao longo dos anos, tanto a indústria nacional de matérias primas para fertilizantes quanto as misturadoras, têm envidado todos os esforços para aumentar sua parcela na oferta de fertilizantes.  

Como sabemos, no processo de tomada de decisão para efetivação ou não de investimentos, torna-se essencial que o seu valor presente líquido não seja negativo e para tanto o desconto dos fluxos de caixa envolvidos em cada iniciativa são únicos e dependem  de uma série de importantes variáveis que impactarão o fluxo de receitas e despesas de cada projeto. 

 A ANDA envida seus esforços na direção de um agronegócio cada vez mais competitivo e sustentável, analisando todo e qualquer impacto de qualquer variável neste sistema, com uma visão ampla, considerando o efeito em todos os elos da cadeia, desde a fabricação de matérias primas para fertilizantes, intermediários e produtos acabados (formulações), até o produtor rural. 

Pela característica continental do Brasil, com consequente impacto da infraestrutura e logística no setor, aliado a complexidade e velocidade de mudanças no sistema tributário brasileiro, seja no âmbito municipal, estadual ou federal, a ANDA está constantemente envidando esforços no sentido de estudar e se aprofundar cada vez mais no entendimento dos impactos destes sistemas na competitividade de todos os elos  da cadeia. 

Esta questão, juntamente com outras importantes variáveis estão dentro do estudo e contínuo aprofundamento citados acima.

2. Recentemente a ANDA avaliou a entrega de fertilizantes no mercado brasileiro e informou um aumento em relação ao volume registrado no ano anterior. O que levou a essa recuperação da demanda em 2016, já que em 2015 o volume registrado no período foi inferior ao volume de 2014?

Basicamente em virtude de um ambiente favorável de Relações de Troca para o produtor rural, conforme exemplo para o milho e soja abaixo:

Note, conforme em amarelo na tabela acima, que as relações de troca vêm perdendo intensidade na direção favorável ao produtor rural e em 2016, quando comparado ao mesmo período dos anos anteriores, vem decrescendo sensivelmente. No caso do milho, por exemplo, vem diminuindo 1,5% a.m. desde janeiro de 2014. Na soja, comparando o mesmo período, praticamente estável a 0,08% a.m., sendo que em 2015, ficou com -0,40 %a.m.

Segundo o IMEA, considerando as safras de 2013/14, 2014/15, 2015/16 e 2016/17, os fertilizantes têm diminuído seu percentual de participação nos custos de produção, com os valores de 45%, 38%, 36% e 35%, respectivamente, com R$625,94/ha, R$638,46/ha, R$702,58/ha e R$726,4/ha, respectivamente.

3. O Nitrato de Amônio é um produto que pode estar sujeito a complicações devido às restrições impostas pelo exército e bombeiros de cada UF. Qual é a visão de longo prazo da ANDA em relação à disponibilidade, transporte e armazenamento de Nitrato de Amônio no Brasil?

A visão da ANDA é de que através dos contínuos esforços que estão sendo envidados pela Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC) do Exército Brasileiro, juntamente com a ANDA e integrados ao Comando do Corpo de Bombeiros, todos em direção ao aprimoramento e modernização do novo regulamento que trata de segurança no manuseio e armazenagem de fertilizantes à base de Nitrato de Amônio, propiciarão um ambiente de trabalho e do contorno cadavez mais seguro para todos, não impactando, portanto, na disponibilidade deste produto. 

4. Quais são os principais desafios para o mercado de fertilizantes? 

No caso de matérias primas para fertilizantes, por se tratarem de projetos de escala, intensivos em capital e de expressivo montante de recursos para investimentos na ordem de US$ 3 a 4 bilhões por milhão de toneladas adicionadas, faz-se necessário um ambiente político-econômico-administrativo mais estável e que proporcione um ambiente de negócios com o máximo de segurança jurídica, clarificação e simplificação (padronização) de complexos e mutantes regimes tributários, trabalhistas e regulatórios multidisciplinares, sendo este ambiente mais estável e vital para indústria misturadora. Por sua característica continental, a melhoria do sistema de infraestrutura e logística brasileira são essenciais para a redução do chamado custo Brasil. 

Como exemplo, cito o relatório The Global Competitiveness 2015/2016, quando o Brasil, comparado aos demais países dos BRICS, exceto em qualidade do abastecimento elétrico que ficou acima da África do Sul, ficou abaixo de todos em termos de qualidade do abastecimento elétrico, das rodovias, dos portos, do transporte aéreo e das ferrovias, posicionando-se na 75ª posição global de Competitividade em virtude de sua baixa qualidade em infraestrutura. 

No Gráfico abaixo, um exemplo que mostra a demurrage em único porto e para um único produto (fertilizantes). 

Embora possamos verificar que esforços de melhorias tenham sido envidados nos últimos anos, a demurrage acumulada continua praticamente constante em torno de R$9,92/ton. 

Imagine se computássemos todos os portos e para todos os produtos.

Sobre a ANDA  

A ANDA nasceu com a missão específica de demonstrar aos produtores rurais o impacto positivo do uso dos fertilizantes na relação custo-benefício, pois na década de 1960, apenas 30% das áreas cultivadas usavam adubação, tornando-se uma ação pioneira de marketing institucional na agricultura. 

A ANDA participou e participa ativamente de uma série de frentes de trabalho, alinhadas a sua finalidade inicial, atual, missão, visão e valores, como a edição de conteúdo técnico-agronômico, como manuais, livros, folhetos, boletins, newsletter, entre outras publicações, como o seu anuário estatístico, referência nacional e internacional juntamente com os EUA e Japão, bem como nas discussões, proposição de sugestões e contribuições sobre vários temas multidisciplinares relativos ao setor de fertilizantes e da competitividade da agropecuária brasileira.

 

Equipe GlobalFert, 19/12/2016

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