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Entrevista exclusiva com o Embaixador de Belarus no Brasil – GlobalFert

Entrevista ao Embaixador de Belarus no Brasil, Sergey Lukashevich.

[Globalfert] Diante dos rumores em torno da suspensão das exportações de fertilizantes da Rússia para o Brasil, diversas incertezas surgiram em relação à disponibilidade desses insumos. Você poderia nos esclarecer se estes rumores são verdadeiros?

É difícil para mim, como Embaixador da Belarus no Brasil, comentar a situação com o fornecimento de produtos de outros países. Mas como alguém que tem acesso à informação pública, vejo a situação atual da seguinte forma: existem “três grandes” produtores de potássio no mundo – Belarus, Rússia e Canadá. Um pacote inteiro de sanções contra a Rússia e Belarus está sendo imposto por diferentes razões e em diferentes momentos.

As palavras sobre o aumento da produção de potássio são mera especulação até o momento. A produção de fertilizantes de potássio é um processo complicado, não pode ser feito ao estalar de um dedo, é necessária uma gama de maquinários e conhecimentos produtivos distintos.

[Globalfert] O bloqueio do transporte de potássio via porto da Lituânia, devido às sanções impostos pelos EUA e UE, levantou a possibilidade de escoamento do produto pela Rússia. Contudo, após conflitos entre Rússia e Ucrânia, as chances de sucesso dessa operação podem ser consideradas baixas. Tendo em vista esse cenário, como a Belarus vê uma alternativa para a exportação do Cloreto de Potássio para o mundo?

Infelizmente, os desdobramentos deste conflito internacional atingem pessoas comuns em todos os países, incluindo o Brasil. Geralmente a expressão “trânsito igual a zero” é a mais típica nos Estados Bálticos quando se trata do estado dos portos marítimos, ferrovias e transporte rodoviário de carga. As sanções são sempre uma espada de dois gumes.

 Não perdemos a esperança de chegar a um acordo com as autoridades lituanas que possa resolver esta questão econômica sem emoção política, mas já começamos a pensar em construir nosso próprio porto no Mar Báltico, na Rússia. Isto permitirá fornecer fertilizantes ao Brasil sem ser influenciado pelo clima político e especulações de países vizinhos pouco amigáveis, e proverá o setor agrícola brasileiro com os recursos necessários. Portanto, os investidores brasileiros podem se envolver neste projeto, que afeta diretamente os interesses do Brasil.

Temos propostas interessantes para os principais compradores do Brasil, que, segundo nossas estimativas, são cerca de 17 grandes empresas que costumavam comprar nosso potássio através de intermediários. Tendo em vista as novas realidades, Belarus está pronta para trabalhar fora da caixa. Prevemos mudanças na forma de pagamento, na forma de envio e, é claro, um preço muito atraente. Um fato interessante: No ano passado, os fertilizantes potássicos de Belarus eram 44% mais baratos para o Brasil do que os mesmos fertilizantes da Rússia e 40% mais baratos do que os mesmos fertilizantes do Canadá.

[Globalfert] A Belarus é a segunda maior produtora mundial de Cloreto de Potássio, com uma representatividade de 20% em todo o mundo. Em meio as incertezas que envolvem o mercado desse insumo, quais os impactos que a interrupção do fornecimento, pode causar?

A queda no rendimento das principais culturas que necessitam de potássio, tais como soja, milho, cana-de-açúcar, café e algodão, levará à escassez e ao aumento dos preços.

Belarus e Brasil juntos precisam encontrar uma nova solução e implementá-la. O mundo já está em processo de transformação e os antigos mecanismos não funcionam mais. Deve-se entender que as questões problemáticas causadas pelas sanções não têm soluções simples.

Também quero citar o antigo pensador grego Pittacus que viveu há 2.500 anos: “O trabalho dos espertos é prever a desgraça antes que ela venha, o trabalho dos corajosos é administrar a desgraça quando ela já chegou”. Convido o Brasil a “ser inteligente” e ver já hoje os problemas que virão até o final de 2022 se não forem tomadas medidas agora.

[Globalfert] O Brasil importa cerca de 20% do potássio da Belarus e a interrupção do fornecimento pode colocar em risco a safra brasileira este ano. Há perspectivas para que o fornecimento no Brasil seja normalizado?

Como você sabe, Belarus fornece seus fertilizantes potássicos não apenas para o Brasil na América Latina, também para o Uruguai, Argentina, México, Colômbia. Mas nossos principais parceiros no mundo são o Brasil, a China e a Índia. O setor agrícola desses países também sofrerá.

A receita para este prato é muito simples: são necessários esforços conjuntos, precisamos de compradores brasileiros para começar a discutir com os produtores bielorrussos sobre logística, pagamento e outros assuntos urgentes.

O Brasil está entre os 10 principais parceiros de Belarus no mundo. Temos uma oportunidade de organizar o processo de negociação. Mas sem o interesse do lado brasileiro, sem os principais players brasileiros no mercado, é difícil resolver esta questão. O mercado de potássio não será mais o mesmo.

[Globalfert] Considerando o atual conflito entre Rússia e Ucrânia, como a Belarus se posiciona frente a essa situação?

Esta informação pode não ser tão amplamente conhecida no Brasil, mas o conflito na Ucrânia não começou em 24 de fevereiro de 2022. As hostilidades estão acontecendo desde 2014 em Donbas e por quase oito anos Belarus tem sido a única plataforma para uma resolução pacífica da situação. “Os acordos de Minsk» (Minsk – a capital da Belarus) assinados pelas partes há 7 anos, foram projetados para conter e impedir que o conflito se espalhasse. Desde o início do conflito na Ucrânia em 2014, mais de 170.000 refugiados da Ucrânia chegaram à Belarus e nós os aceitamos. E agora estamos preocupados com todos os civis que se encontram em uma situação difícil no território da Ucrânia.

GlobalFert, 06/04/2022

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