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Entrevista exclusiva com Fred Coelho, Diretor da Bagtech International, falando sobre a empresa no mercado e suas inovações

Acompanhe a entrevista exclusiva GlobalFert com Fred Coelho, Diretor da Bagtech International, falando sobre a empresa no mercado e suas inovações

Juliana Lemos: Olá, seja bem-vindo para mais um conteúdo exclusivo Globalfert.
Para quem não me conhece, eu sou a Juliana Lemos, e hoje eu trouxe um convidado muito especial, o Fred Coelho, CEO da Bagtech International que tem mais de 35 anos no mercado de produção de máquinas agrícolas, e ele estava me contando aqui que começou com a construção e desenvolvimento das máquinas próprias, e elas chamaram tanta atenção que eles começaram a exportar, a comercializar essas máquinas. Isso de um lugar que sabemos que há uma questão de automatização muito forte lá na África do Sul. Agora, agora eles desenvolveram também, serviços para ajudar na importação, na exportação de fertilizantes, com máquinas próprias, com tecnologia própria.

Fred, é um prazer recebê-lo aqui para a nossa conversa. Tenho certeza de que todos vão ficar muito interessados em conhecer mais sobre a Bagtech, e eu já vou começar com uma pergunta, nós vimos e temos acompanhado aqui na GlobalFert essas altas nos preços dos fertilizantes, a situação da guerra também tem trazido muita preocupação para o mercado global como um todo, sobre disponibilidade de fertilizantes.
Com isso, aqui no Brasil, percebemos um crescente interesse em entender a produção própria e imagino que isso aconteça em outras localidades também.
Como você vê isso?
Tem percebido realmente essa movimentação na produção de fertilizantes?

Fred Coelho: Bem, com certeza, até antes da guerra da Ucrânia, mesmo apesar da pandemia, o fertilizante era de fácil aquisição, ninguém se preocupava muito com isso. Claro, quando começou a guerra, e o Brasil felizmente não está incluído nesse problema da falta de fertilizantes, aí muitas pessoas falaram: “não, nós temos que ter certas alternativas. Ou produção local, ou tentar fazer o que chamamos de organomineral (que seria a mistura do orgânico com o mineral)”
Então, no caso do Brasil, eu sei que temos grandes reservas de fosfato, por exemplo, tem que ser explorado. Isso é obvio, só que conheço bem a burocracia para conseguir que esse projeto saia do chão, mas nesse ponto agora não tem jeito, tem que realmente explorar mesmo, e produzir localmente com potencial para exportação. Essa é a nossa opinião e de vários de nossos clientes também.
Agora o que tem acontecido, estamos em contato com muitos clientes no Brasil, e eles estão olhando para o organomineral. O que acontece, eles vão diminuir o nível de poção, só que isso é um projeto a longo e a curto prazo, os dois, pois mesmo a mineradora de fosfatos não se faz de dia para a noite. Então já está se passando há mais de um ano, um ano e meio.
O que nós fizemos? Já começamos a adaptar as nossas misturadoras, que chamamos de misturadoras híbridas, que podem usar os dois, o organomineral. Por quê? O fertilizante orgânico tem vários desafios. Problemas de fluxo, que pode abaixar a precisão dos equipamentos, então há mais de um ano e meio já estamos desenvolvendo esse produto, essa misturadora que vai se chamar híbrida. A primeira talvez entre no Brasil já no ano que vem.
Há vários desafios, algumas coisas vamos ter que acertar durante o comissionamento da usina, mas nós já fizemos vários testes aqui. Então, o meu ponto de vista é esse, que o Brasil tem que acelerar a produção de fertilizantes internos e olhar para o organomineral. Só que tem que ter muito cuidado, porque o mal exemplo do lance do fertilizante orgânico, acabou de acontecer no Sri Lanka pois o presidente que pôs para fora agora, proibiu a importação de fertilizantes minerais, pois ele disse que tinha que ser só fertilizante orgânico e isso arrasou a indústria agrícola do Sri Lanka. Não produzem nada, e o pouco que produzem não dá para nada.
Então, é um negócio muito cuidadoso, precisa de muita pesquisa e desenvolvimento, e nós estamos um passo á frente. Já estamos fazendo testes, já temos algumas marcas trabalhando como disse em nossa operação e acho que vai ter um grande potencial no Brasil. Já tem algumas pessoas fazendo, de maneira mais artesanal, mas nós já temos um projeto grande para o Brasil que foi automatizado para isso. E vai haver um desenvolvimento local, uma coisinha, ou outra, mas nós já dominamos essa área. Então é isso, a produção é importantíssima. Mas projetos a longo prazo.

Juliana Lemos: Sim, não é uma coisa que se resolve de uma hora para outra.
Mas muito interessante saber sobre essa nova tecnologia híbrida. É a primeira vez que eu ouço sobre isso, com certeza algo diferenciado de vocês.
E tem uma outra situação que tem sido bem difícil, que está também relacionado com a pandemia, com a guerra, que é o escoamento dos fertilizantes seja no Báltico, em Vancouver, na própria África do Sul, no Porto de Durban. Existe uma certa dificuldade as vezes, por conta dos lockdowns que se colocam, por conta da questão de guerra também ali no Báltico.
Isso impactou o mercado de vocês de alguma maneira? Entendo que a Bagtech tenha presença, atenda clientes do mundo todo, tem cliente de vários lugares. Como você enxerga isso?

Fred Coelho: Bom, quanto à África do Sul, nós temos grandes volumes que passam pelas nossas mãos aqui e para te falar a verdade, o único problema que tivemos aqui foi com o tráfico de navios, muitos navios, houve um pouco de atraso para entrar no porto, mas não sofremos muito com isso não. Aqui funcionou tudo, apesar de que foi um dos lockdowns mais duros do mundo, a África do Sul, tanto que nós fechamos três meses, a fábrica. A área de serviços não fechou pois foi considerado serviço essencial pois é lá que distribuímos fertilizantes, mas a fábrica, tivemos que fechar por três meses. O problema que nós tivemos é que muitas ordens de 2019, 2020 e 2021, eu acho que foi o maior nível de vendas que já tivemos até hoje, mesmo durante a pandemia.
No Brasil nós não sentimos isso, agora, onde nós sentimos problemas realmente, foi no Oeste e Leste da África. Nós temos muitas usinas, mais de 45 usinas na África. Então, no norte da África do Sul, Leste, Oeste, já tem problemas de transporte e de infraestrutura, e muitos dos nossos clientes de médio porte, eles realmente diminuíram a produção por falta de fertilizantes, problemas logísticos e outra coisa é que aumentou o preço, como você sabe, os preços aumentaram muito então também tinha problema com as finanças para poder manter as usinas trabalhando. Os grandes, na Nigéria nós temos oito usinas por exemplo, uma faz 300 mil toneladas por ano, outra faz 200 mil, outra 150 mil. Esses conseguiram se manter, são companhias grandes, mas os de médio porte realmente, tiveram que reduzir a produção por causa disso.

Juliana Lemos: Entendi. Realmente tiveram impactos importantes, e assim, com mais de 30 anos no mercado, Fred, você já tinha acompanhado uma situação no mercado com tantas oscilações, com tantas interferências, seja de pandemia, guerra, política, agora o gás natural influenciando também nos fertilizantes de forma forte. Você já tinha acompanhado isso em algum momento Fred?

Fred Coelho: Olha, foi uma tristeza porque até 2019 estava indo tudo bem, não tinha restrição nenhuma. Como nós vendemos usinas para vários países, entrou 2020, começou a haver restrições, a África do Sul, um dos mais duros do mundo com o lockdown. Voos cancelados, navios que não chegavam no tempo. De repente, tudo desmoronou. Então as usinas que nós vendemos não podíamos mandar nossos técnicos, porque os voos foram cancelados e alguns países não aceitavam a entrada de estrangeiros.
Em Angola tínhamos uma usina lá, estava tudo pronto para ir e no dia seguinte, o governo disse que brasileiro não entra. Então, passado alguns meses, nós conseguimos enviar nossos técnicos de mecânica e elétrica para montar as instalações. Tivemos problemas que um deles pegou Covid, mas os protocolos da Covid foram terríveis, por exemplo, para enviar um técnico para a Angola, tive que mandá-lo para a Etiópia e descer para a Angola poque não tinha mais voos. Voos da África do Sul, infelizmente a South African Airlines foi à bancarrota naquela época e foi um sofrimento terrível, terrível mesmo. Só que quando a gente monta essas usinas, geralmente antes da pandemia, eu mandava nosso engenheiro de sistemas, de programação, só que esse pessoal é muito sensível a nossa companhia, esses engenheiros, porque todo desenvolvimento é feiro aqui e como nós ficamos com medo de mandar esse pessoal eles pegarem Covid, nós resolvemos testar o que nós chamamos de Comissionamento virtual, em outras palavras, os técnicos montaram a usina lá e virtualmente foi feita toda programação e comissionamento da usina. Foi a primeira vez que nós testamos isso, devido ao fato que eu não queria que eles viajassem e foi muito bem-sucedido. De lá para cá, todas as usinas são feitas assim.
Já economiza para o cliente, é uma viagem, acomodação, tudo feito online. E devido a essa inovação que nós fizemos, ganhamos um prêmio internacional de inovação técnica mundial.
Veja bem a necessidade, o que faz você melhorar.
Porque o que acontece é que todas essas usinas que nós vendemos, no mundo inteiro, estão online 24 horas. Então normalmente, quando o cliente tem problema, a gente entra, e 99.9% não é necessário enviar os técnicos.
Isso é oque nós já desenvolvemos durante a pandemia, mas todas elas sempre estiveram lá, isso já é uma inovação que nós fizemos por necessidade né?

Juliana Lemos: Com certeza.
E mesmo com todas essas dificuldades que a gente conversou aqui durante esse momento, a Bagtech conseguir inovar, ganhar um prêmio ainda em relação a parte técnica, e é sobre isso q eu ia perguntar mesmo.
O que podemos esperar de inovações e próximos passos da Bagtech para o ano que vem? Tenho certeza de que o pessoal quer conhecer mais.

Fred Coelho: Ok. Nós estamos trabalhando, como disse para você, damos assistência online para os clientes, mas nós desenvolvemos um software agora também. Nosso software utiliza inteligência artificial, e aprendizado de máquinas e já é algum tempo que tem.
Então o que estamos fazendo, nós estamos preparando já saíram em usinas sim, o que a gente chama de diagnóstico remoto. O que o diagnóstico remoto faz? A gente identifica os problemas online aqui e ajuda o cliente. Esse diagnóstico remoto agora, vai facilitar ao cliente, apontar exatamente onde está o problema, e vai minimizar a perda na produção e auxiliar, muito amigavelmente para o operador ou supervisor da planta, exatamente onde está o problema.
Isso é uma inovação que já está sendo testada, implementamos em uma usina e isso vai facilitar muita na operação e nos diagnósticos de qualquer problema que possa acontecer. Esse é um, e no organomineral que nós estamos realmente desenvolvendo muitas, mais ainda do que nós já temos por que nós sabemos, eu achava que a África do Sul ia ser mais rápida, mas pelo feedback do Brasil que a gente tem, vai aumentar muito isso lá.
É por isso que, essa área de serviço que a Bagtech tem, onde nós manuseamos 30% dos fertilizantes importados na África do Sul, facilita muito as nossas pesquisas e desenvolvimento, porque tudo que nós fazemos, nós colocamos em uma de nossas operações, a maioria em Durban e nós testamos para ter certeza de que o produto que sai da fábrica já sai testada para esse fim.
E a nossa filosofia é essa, sempre melhorando. Agora o que houve também, vale pôr um aspas aí, o que aconteceu, voltando a sua pergunta anterior, é muito importante, logo quando começou a pandemia, começou um aumento de custo de material e foi assim, terrível, mas nós conseguimos mitigar isso, mas aí o que aconteceu? Começou a falta de material, especialmente o aço inox, que em um ano aumentou 100%. Aí nós previmos uma coisa, nós falamos “olha, vai faltar componentes de automação”

Juliana Lemos: Tem um impacto direto né?!

Fred Coelho: Há um ano, nós vimos que os fornecedores que davam oito semanas, passando para doze, passaram para dezesseis, e hoje está em vinte e quatro semanas, mas o que nós fizemos? Nós mitigamos isso porque, nós compramos de muitos e vários fornecedores. Chegamos para eles e falamos: “O que vocês tiverem de estoque, manda para gente”.
Porque também não sabíamos do fim da pandemia, como é que ia ser a demanda dos nossos equipamentos. Felizmente, aumentaram de uma maneira assustadora, então o que nós fizemos? Previmos que podia estar faltando material para automação e estocamos o suficiente, tranquilo. Nós também mitigamos de outra maneira, seguimos assim o exemplo, um pouquinho do Elon Musk, que por sinal é sul-africano, quando todas as fábricas de carro decidiram cancelar as ordens dos shipments que eles tinham, o Elon Musk fez o contrário e disse: “Continuo comprando”. E foi mais ou menos isso que nós fizemos, nós continuamos comprando. Então hoje, nós temos preferência, até para companhias como a Toyota, por exemplo, aqui nós compramos mais que a Toyota em alguma automação, nós temos preferência. Mas assim mesmo, é muito difícil, alguns não tem mesmo, então nós mitigamos para converter nosso equipamento de automação generalizado. Se estiver faltando alguma peça crucial, e nós achamos uma outra que pode ser parecida, nós podemos converter. Isso foi o maior pesadelo que nós tivemos, porque hoje, se eu pedir por exemplo, um variador de frequência para um motor, a entrega é em dezembro. Para você ter uma ideia, e nós temos isso em estoque, graças à essa visão que nós tivemos.

Juliana Lemos: Conseguiram se antecipar bastante em relação ao mercado, é bem impressionante realmente.
Fred, eu gostei muito de conhecê-lo e de conhecer mais sobre a Bagtech. Tenho certeza que o pessoal que nos assiste também tem essa visão. É uma empresa realmente que traz muitas inovações, que pensa de forma estratégica, em se antecipar a essas movimentações de mercado.
E agradeço também a você, que nos assistiu até o final dessa entrevista.
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Muito obrigada, e até a próxima.

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