Negócios

Galvani pode deixar sociedade com Yara

A disputa judicial entre a norueguesa Yara e a brasileira Galvani, fabricante de fertilizantes fosfatados, pode ter uma solução mais rápida do que se imaginava. Segundo fontes a par do processo, as empresas iniciaram conversas para negociar a saída da família Galvani da sociedade na companhia com o mesmo nome. Isso anteciparia a opção de compra da Yara – que tem 60% da companhia – da participação remanescente, originalmente prevista para 2023.

Em dezembro passado, três anos depois de vender 60% do capital da empresa à Yara por US$ 318 milhões -, a família Galvani iniciou uma disputa judicial contra a multinacional, alegando que cláusulas do acordo de acionistas estavam sendo desrespeitadas.

A briga está relacionada, segundo apurou o Valor, ao Projeto Salitre, de produção integrada de fosfatados em Patrocínio (MG), e que foi o maior atrativo para a Yara – que ainda não produzia fosfatados no Brasil – comprar as ações da Galvani.

Pelo acordo, os representantes da família Galvani ficariam à frente do projeto após a venda das ações, mas desde o início de dezembro, os irmãos Rodolfo Galvani Júnior e Roberto Galvani foram afastados. O processo está na 2ª Vara Empresarial e de Conflitos de Arbritagem de São Paulo e está sob segredo de Justiça.

Conforme fontes familiarizadas com o tema, uma primeira reunião entre os sócios ocorreu na última segunda-feira. No encontro, foi discutida proposta de antecipar a opção de compra da Yara dos 40% que hoje pertencem aos Galvani. Segundo as fontes, a família deseja deixar a sociedade pois a disputa judicial tornou sua permanência na empresa insustentável.

Procurada, a família Galvani não comentou. A Yara disse, em nota, que há uma agenda de reunião entre sócios para tratar “os mais diversos temas da joint venture, mas nega a discussão de compra dos 40% da Galvani pertencentes à GPI, holding da família”.

Em comunicado a funcionários e fornecedores datado do dia 4 de dezembro, a Yara informou que os irmãos Galvani foram afastados da empresa “no contexto de fatos ocorridos durante a gestão do projeto para assegurar a elevação dos padrões de segurança, sobretudo após os dois acidentes fatais”. Os cargos da família no conselho de administração foram mantidos, segundo o comunicado.

De acordo com as fontes familiarizadas com a disputa, houve dois acidentes fatais no local onde está sendo desenvolvido o Projeto Salitre. Mas os responsáveis pela segurança não foram afastados, apenas os irmãos Galvani.

O conflito entre os sócios também seria motivado por uma suposta tentativa da Yara de “desvalorizar a participação da família Galvani” na empresa, impedindo a contratação de empréstimos com Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e optando por financiamentos mais caros em bancos privados.

As mesmas fontes afirmam que uma das exigências contratuais da Yara era que os projetos não saíssem mais caros que o inicialmente orçado pela Galvani. Diante disso, o acionista brasileiro deu, voluntariamente, como garantia o valor recebido na transação e sua participação remanescente de 40%, que poderia ser entregue num eventual estouro do orçamento. Mas os Galvani exigiram que a família fundadora tocasse os projetos.

Desde o começo de 2014, a Galvani buscava um parceiro para conseguir levar adiante projetos como o Salitre e o Angico, na Bahia, e o Santa Quitéria, no Ceará, que demandavam investimentos ao redor de US$ 1 bilhão.

A Yara, que já era a maior misturadora de adubos (fabricante de produtos finais) do país, com uma fatia de 25% do mercado, buscava aumentar a produção de fosfatados. Quando anunciaram a parceria, as empresas estimaram que a produção de fertilizantes fosfatados da Galvani sairia de 1 milhão para até 4 milhões de toneladas em 2019. Atualmente, as duas empresas juntas produzem em torno de 2 milhões de toneladas. A Yara é uma das maiores do setor do mundo, com receita de US$ 11,4 bilhões em 2016, 28% gerados no Brasil.

 

Ricardo Alfonsin Advogados, 18/01/2018

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