Marcelo Strassburger, engenheiro de Pós-Vendas da Bagtech, comenta sobre Tecnologia 4.0 e expansão no setor de fertilizantes
Confira a entrevista exclusiva do GlobalFert com Marcelo Strassburger, Engenheiro de Pós-Vendas da Bagtech.
Poderia nos contar um pouco sobre a história da empresa e onde vocês estão presentes atualmente, além dos serviços que a Bagtech traz para o setor do agronegócio?
A Bagtech é uma empresa de brasileiros na África do Sul com mais de trinta anos no mercado de fertilizantes. Estamos presentes em vários continentes, como África, Asia, América do Sul e Europa. Temos duas divisões na companhia: a área de equipamentos e a área de serviços – que foi onde tudo começou e nos proporcionou todo o know-how para que desenvolvêssemos os melhores equipamentos.
Na área de serviços, atuamos em fábricas/operações onde oferecemos o gerenciamento completo do manuseio da cadeia de fertilizantes para nossos clientes, desde a descarga do navio, controlando o estoque no armazém, recobrimento e mistura dos produtos e, finalmente, ensaque e despacho da carga. Todo o processamento do produto é reportado ao cliente diariamente através do nosso sistema de gerenciamento.
Na área de equipamentos, projetamos e fabricamos unidades personalizadas para mistura, recobrimento e ensaque, bem como máquinas compactas e unidades móveis para processamento de fertilizantes de acordo com as necessidades do cliente. Nossas máquinas são equipadas com nosso sistema de controle online – tecnologia digital conhecida como sistema ciber-físico (CPSs) na indústria 4.0 – que monitora e mostra o processo completo do produto online e em tempo real, permitindo a alteração das configurações das mesmas de qualquer lugar.
Falando um pouco sobre tecnologia, os equipamentos da Bagtech são equipados com sistema de automação que possui o controle de correção automática. Como isso funciona na prática para o cliente?
O sistema de automação da Bagtech possui uma tecnologia incorporada com inteligência artificial. O normal das moegas ou silos que fazem o produto cair sobre a correia, é ter as portas acionadas de forma pneumática, onde elas abrem e fecham controlando-se através de algum registro manual. A Bagtech utiliza um sistema de servomotor em que essa abertura pode parar em posições milesimais, ou seja, ele pode abrir e fechar de acordo com a necessidade. O sistema analisa a quantidade de material que está dosando e, percebendo que o material não está fluindo de acordo com a quantidade que está descrita pela formulação – a qual é imputada previamente no sistema – ela vai abrir ou fechar a ponto de ajustar com perfeição a dosagem que deveria estar acontecendo naquele momento. Essa é a forma com que é ajustado o sistema em tempo real para que funcione conforme definido em uma formulação inserida no sistema.
Falando ainda sobre tecnologia, poderia comentar sobre o que é e quais são os benefícios da Indústria 4.0 para o setor de fertilizantes?
Estamos passando por uma transformação digital radical, com o mundo digital e a produção industrial se unindo. Essa coesão é o que a Internet das Coisas (IoT) e a Indústria 4.0 pretendem realizar. Benefícios como maior eficiência energética, flexibilidade, precisão, processos logísticos simplificados e otimização da cadeia de valor explicam por que a Indústria 4.0 é um tópico chave de conversa dentro da indústria de produção de fertilizantes.
Porém, o que se vê na maioria dos equipamentos de fertilizantes brasileiros, são sistemas e tecnologias muito antigas que foram desenvolvidos nas décadas de 80 e 90.
O equipamento Bagtech ao longo dos anos vem integrando a indústria 4.0 em um novo conceito de tecnologia embarcada, que já se utiliza tanto no setor automobilístico quanto no petrolífero. Na área de fertilizantes, ainda não era conhecido ou utilizado até por conta da agressividade dos materiais.
Devido a isso, trabalhamos com materiais e sensores a base de aço inoxidável, reduzindo e até eliminando problemas com essa agressividade. Somado a isso, tecnologia de ponta da vinda da Alemanha através da Festo, incorporando esse mesmo conceito na totalidade da máquina.
Como a Industria 4.0 tem a finalidade de fazer com que a máquina seja mais autônoma e inteligente o suficiente para poder tomar decisões, faz com que não seja necessária a interferência direta dos operadores nas dosagens ou na velocidade da máquina de acordo com o que eles entendam ser o melhor. O sistema sabe o produto que está dosando, sabe as decisões que tem que tomar e o faz, tornando o operador um supervisor do sistema. Entretanto, se algo diferente daquilo que foi programado no sistema acontecer, ele pode tomar uma decisão e interferir evitando um problema maior.
Em resumo, a Indústria 4.0 vem para garantir que a tomada de decisões seja feita no CLP. Ou seja, no controle da máquina e não no cérebro humano que está suscetível a falhas. Por maior que seja a experiência de um operador, o cansaço, a desatenção ou até mesmo uma decisão precipitada pode afetar diretamente a precisão e qualidade final do produto, bem como aumentar o custo da operação seja em tempo (máquina e mão-de-obra) ou desperdício de produto.
Com relação a segurança do sistema Bagtech, a empresa adota algum controle específico? Como funciona?
A Bagtech utiliza um sistema de segurança categoria 4. Significa que estamos adotando o mais alto grau de risco possível no controle do sistema dentro de uma máquina. Os riscos são separados por categorias, começando na possibilidade de pequenas escoriações até a possibilidade de morte. Utilizamos como régua a possibilidade do mais alto risco para poder projetar o que existe de mais seguro no mercado de controle e segurança do operador.
Para isso, utilizamos um sistema chamado ASI, que é uma rede com um CLP de segurança específico que controla e determina que no caso de qualquer evento anormal o equipamento seja imediatamente desarmado. Por exemplo, se alguém abrir uma tampa de proteção, uma porta de acesso, ou até mesmo acionar uma botoeira de emergência, o sistema de sensoreamento interligado à automação bloqueia completamente a máquina, evitando assim um acidente. São inúmeras as possibilidades, onde todas são avaliadas e pensadas com o melhor dispositivo para anular as mesmas.
Dessa forma no sistema ASI, que é um cabo de rede especial desenvolvido na Alemanha, o sistema de segurança é todo integrado e reporta no supervisório o risco responsável pelo desarme. É informado se por exemplo, uma correia parou por segurança e qual o motivo.
O sistema ASI é muito robusto e não permite que seja burlado. É comum vermos sensores sendo burlados através do sistema elétrico, o que chamamos de “jumper”. O sistema ASI não permite isso. Se um dos sensores não estiver funcionando, toda rede será desarmada e não há o que fazer a não ser substituir ou adequar o sensor na posição, seja fisicamente ou no sistema.
Falando agora um pouco sobre o mercado, como o setor se comportou ao longo de 2024?
O mercado de fertilizantes segue lento em 2024. Porém, as empresas estão utilizando este momento para reorganizar a casa e planejar os investimentos para os próximos anos. Este ano, até o momento entregamos os equipamentos que estavam previstos e estamos trabalhando em vários projetos visando as entregas de 2025 e 2026. Também aproveitamos para reestruturar a nossa empresa aumentando a capacidade de produção, e investindo em equipamentos para a redução de custo e tempo de entrega das nossas máquinas.
Caminhando para o final da nossa entrevista, quais as perspectivas, inovações e prospecções que a Bagtech tem para o mercado em 2025?
A inovação está no DNA da Bagtech. Estamos em constante evolução no que diz respeito a tecnologia, pois acreditamos que cada vez mais ela será necessária e estará inserida no segmento de fertilizantes.
Com relação às perspectivas para 2025, a quantidade de projetos que temos no momento, especialmente para o mercado brasileiro, nos mostra o quão bem nosso conceito e tecnologia foi aceito tanto pelas pequenas quanto médias e grandes empresas nacionais.
Como parte do planejamento para o próximo ano, estamos trabalhando no projeto de uma nova unidade fabril para absorver o aumento da produção tanto no mercado Africano quanto no Sul-americano. Este ano também concretizamos uma parceria no mercado Europeu, onde passaremos a fornecer misturadoras e sistemas de revestimento e ensaque.
Sendo assim, continuamos sendo muito agressivos e ampliando nossos investimentos no Brasil. Sabemos que o processo é lento, mas a cada nova unidade instalada aumenta o conhecimento bem como a confiança na Bagtech por parte dos players do mercado nacional. Não temos dúvida que nossa história está apenas começando por aqui.
Marcelo Strassburger, Engenheiro de Pós-Vendas da Bagtech.
GlobalFert, 22/10/2024.