O dilema do produtor rural sobre o momento da compra de fertilizantes
O início da próxima safra (2022/2023) está chegando e muitos produtores ainda não compraram fertilizantes para suas lavouras. A expectativa de se obter um melhor preço mais para frente é um dos motivos dessa espera, porém, é preciso levar em consideração também um possível gargalo logístico se todos deixarem para adquirir os insumos na última hora. E, se isso acontecer, o risco de atraso na entrega pode colocar a perder a produtividade da lavoura, levando a prejuízos significativos. Por isso o dilema: comprar no preço que está enquanto ainda há uma janela segura de entrega ou esperar para tentar um melhor preço e correr o risco de não receber a tempo os fertilizantes?
O trabalho do produtor rural é complexo e, além de muito planejamento e muita matemática, é preciso ainda contar com os diversos imprevistos inerentes à agricultura para ter sucesso no campo. Não estou aqui para dizer o que se deve fazer, mas sim trazer um pouco do cenário do mercado nacional de fertilizantes neste momento e, quem sabe, com algumas informações, ajudar o produtor a refletir na melhor tomada de decisão em mais um momento desafiador como este que estamos vivendo.
Não existe mais o risco de faltar fertilizantes para esta safra. O Brasil já fez a compra e tem os produtos em armazéns, nas misturadoras, nos portos nacionais, e as empresas estão abastecidas. Ou seja, o risco de faltar fertilizante para esta safra não é mais latente. E até por esse motivo de termos insumos no País – e já ter comprado antes para não deixar o agricultor brasileiro sem os produtos –, o preço na ponta não deve mudar muito. Com isso, ficamos mais seguros de que, mesmo que aconteça uma nova crise no mercado global por diferentes motivos, ainda assim, teremos os nossos fertilizantes disponíveis.
Porém, a entrega dos insumos na fazenda de fato não é garantida, se muitos pedidos forem feitos na última hora. Isso porque são milhões de toneladas de produtos a serem entregues e isso não é possível em três ou quatro semanas, por exemplo. Não há capacidade logística no Brasil para entregar esse grande volume em um curto espaço de tempo. Por mais que as grandes empresas de fertilizantes estejam estruturadas e tenham se antecipado aos problemas para garantir a disponibilidade dos insumos para os agricultores, elas dependem do transporte para o escoamento dos produtos.
Falando sobre valores, muito tem que ser levado em conta e o produtor sabe disso, afinal, boa parte de seu planejamento é fazer contas. A tendência do preço das comodities é cair, porém, não de forma significativa neste ano no Brasil. Além disso, é preciso avaliar os valores de entrega, que podem também subir mais para frente, visto que houve um expressivo aumento de combustível. Logo, comprar insumo mais para frente, pode implicar em pagar mais pelo custo do frete. Há ainda a questão da variação cambial, fator que, em ano de eleição, deve ser considerado, pois pode tornar a decisão de compra mais a frente um risco maior, quando a baixa do fertilizante em dólar pode ser minimizada ou até anulada pela alta do dólar.
Claro que o agricultor quer acertar 100 por cento e, embora seja preciso muitas contas, os imprevistos não são exatos como a matemática e as mudanças são constantes. Por isso, para sair desse dilema e tomar uma decisão, vale refletir sobre esses pontos abordados aqui: preço do fertilizante – será que vale mesmo a espera para tentar conseguir um preço melhor –, possível alta no custo do frete e do dólar mais para frente e gargalo logístico na última hora, correndo o risco de não receber os insumos no momento certo e, dessa forma, colocando em risco a produtividade da lavoura, que poderá significar grandes prejuízos.
Gustavo Vasques, CEO da ICL América do Sul