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Mais navios de fertilizantes e grãos e a transformação digital

Ramon Amaral/Wilson Sons*

O Brasil é um dos maiores exportadores de grãos do mundo, batendo recordes de safra ano após ano. Somos líderes globais na produção, por exemplo, de soja e milho. Nesse cenário, a demanda atual por fertilizantes importados continua forte, estimulando uma maior quantidade de navios que chegam à costa brasileira para serem atendidos com o serviço de agenciamento marítimo.

Com o início do plantio da safra de soja 2023/24, entre setembro e outubro, houve um forte aumento nas entregas de fertilizantes no mercado brasileiro, totalizando 4,479 milhões de toneladas em julho. Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o crescimento foi de 25,4% na comparação com o mesmo mês de 2022.

Vale ressaltar que, diariamente, milhares de navios, que navegam por mares e rios, abastecem a população mundial de commodities agrícolas, incluindo os insumos do agronegócio, e de produtos industrializados. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), 80% a 90% do comércio global são realizados pelo modal aquaviário. São US$ 5 trilhões em valor agregado dos produtos transportados.

Para o atendimento de navios de fertilizantes, hoje cada vez maiores, é essencial a especialização no setor. Na Agência Marítima da Wilson Sons, o maior operador de logística portuária e marítima do mercado brasileiro e com mais de 185 anos de atuação, a acuracidade e a rapidez nas informações prestadas no line-up (listagem da programação das operações dos navios) dos portos permitem aos clientes tomarem decisões baseadas em inteligência portuária, tanto em termos de compras internacionais quanto em logística. Além de dar visibilidade à espera de navios nos portos, a Agência acompanha constantemente o mercado global e reporta qualquer fator externo que traga impactos nesse planejamento das empresas. Em tempo real, fazemos atualizações do status do navio em relatórios com informações detalhadas sobre a operação de descarga, bem como todos os eventos de entrada e saída do navio no porto.

No caso das operações da Agência Marítima no exterior – onde temos escritório próprio na China e representantes estratégicos na Europa – a atuação na Ásia tem particularidades. A grande diferença de fuso horário em relação ao Brasil requer, por exemplo, manter times de prontidão para atender as demandas dentro do horário comercial asiático.

Há outras peculiaridades que diferenciam o atendimento de navios que transportam fertilizantes de embarcações de transporte de grãos e celulose, por exemplo. No caso de grãos, um ponto relevante é a documentação por conta do tempo para emissão de BL (Bill of Lading, conhecimento de embarque) feito na origem, exigindo aprovações das partes, incluindo o armador ou afretador, dentro do prazo estipulado. Já em relação aos navios de fertilizante, em sua maior parte, o BL já vem emitido da origem, e temos de coordenar com os despachantes a entrega desses documentos, assim como junto ao comandante do navio.

Existem também oportunidades de redução de custos e ganhos de produtividade. Em geral, navios Panamax, quando atracam no Brasil para carregar grãos, trazem fertilizantes para descarregar, otimizando o custo da viagem e evitando vir em lastro, o que pode beneficiar o preço do frete. Atualmente, os navios de fertilizantes, na sua maioria, são do tipo Handysize (classe de navios graneleiros que possuem porte bruto – DTW – entre 15.000 a 60.000 toneladas), mas verifica-se crescimento da utilização de Panamax (classe de navios graneleiros que possuem porte bruto – DTW – entre 60.000 a 80.000 toneladas). No caso de grãos, em sua grande totalidade os navios em operação são Panamax. Para operações com celulose, por sua vez, o mais usado é o navio Box shaped por conta da sua estivagem (colocação da carga no porão da embarcação).

No agenciamento marítimo, fazemos a conexão entre o navio e o porto, fornecendo às autoridades os dados necessários para os trâmites de chegada ao terminal, atracação, operação de descarga e saída, bem como providenciamos serviços para o navio e a tripulação. Portanto, é imprescindível que uma agência marítima tenha pleno conhecimento das regras portuárias, restrições para recebimento de navio e carga nos diversos terminais, relacionamento com autoridades, neste caso, principalmente, conhecer a dinâmica dos mercados de fertilizantes e grãos e suas particularidades.

Com novas tecnologias e gestão, a Agência Marítima da Wilson Sons, que atua com 19 filiais em portos ao longo de toda a costa brasileira, dá suporte a empresas que demandam fertilizantes na cadeia do agronegócio brasileiro. Nesse mercado promissor, o produtor rural necessita de tecnologia em sua plantação para adubação e fortalecimento do solo, promovendo uma colheita mais robusta e saudável. Assim, agrega valor ao seu produto e qualidade aos grãos exportados, impulsionando a economia brasileira.

Cada vez mais, o segmento de agenciamento marítimo aposta na transformação digital para oferecer soluções práticas e inovadoras aos clientes. No caso da Wilson Sons, foi desenvolvida na Agência Marítima a plataforma WS Connect que tem funcionalidades como line-up em tempo real, tracking on time (rastreamento em tempo real) dos navios atendidos, relatórios e estatísticas dinâmicas, separados por commodity, bem como notícias e atualizações relacionadas aos portos do Brasil. A adoção desta ferramenta on-line pelas empresas traz uma economia de tempo, com facilidade no acesso das informações em uma única plataforma via website no computador e pelo aplicativo no celular.

O Brasil é um país rico de profissionais qualificados e tecnologia de ponta, entretanto, estamos em uma curva de aprendizado quando se trata de logística outbound (entrega dos produtos nos centros de distribuição e clientes finais). Um dos desafios é aumentar o número de armazéns para segregar o produto, assim como a malha ferroviária para permitir que os insumos importados sejam transportados, a baixo custo, dos portos até os centros produtores, como os de Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Goiás e Minas Gerais. Além da soja, os fertilizantes são utilizados em larga escala em culturas de milho, café, cana de açúcar e algodão.

Porém, as novas malhas ferroviárias abrangendo o Arco Norte do País estão trazendo alternativas para os fluxos de transporte até o Mato Grosso (maior mercado consumidor), desafogando as malhas ferroviárias do Sul e Sudeste. Dessa forma, verificamos que há uma gradativa melhora na logística de escoamento de grãos e fertilizantes.

*Ramon Amaral é especialista comercial da Agência Marítima da Wilson Sons em fertilizantes, grãos e celulose, 09/10/2023.

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