Culturas

Boas expectativas para a compra de fertilizantes no Rio Grande do Sul

Observando a lavoura de soja, ainda mais verde em contraste com o céu azul, o produtor Idalino Dalbello, de Passo Fundo, sorri satisfeito. Após um 2016 marcado por incertezas no campo político e econômico, chega ao final do ano com o plantio de 120 hectares crescendo vigoroso, dando boas-vindas ao 2017 que se apresenta com otimismo. Não é para menos. Em anos anteriores, a disparada nos custos de insumos e as oscilações do câmbio obrigaram o agricultor a rever planos. Com um cenário que não dava sinais de melhora para o milho, interrompeu o cultivo por alguns anos para investir apenas na soja “por segurança”.

– Acabei fazendo plantação de milheto e nabo para fazer rotação de cultura, mesmo com custo mais alto. Mas como já tinha tido perda no milho outras vezes, fiquei com receio. Agora, a gente volta a ter certa liberdade para planejar. O pior já passou – acredita. 

A confiança no futuro é compartilhada por outros segmentos, que veem no horizonte uma combinação favorável de fatores para o atual ciclo: clima amigável, produção cheia, avanço no abate de animais e mercado externo aquecido. Mas ainda há desafios. 

A chegada de Donald Trump à Casa Branca e a recuperação da economia brasileira são dúvidas. As políticas adotadas pelo governo também. Mesmo após as mudanças no Palácio do Planalto, seguro agrícola e outras formas de incentivo para o setor devem continuar sendo assunto nas rodas de conversa esse ano.

Avanço mesmo com crédito restrito

O ano de 2017 começa da melhor maneira na lavoura: com a expectativa de uma nova safra recorde de grãos. Projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta para uma colheita de 210,7 milhões de toneladas no país, número 14,2% maior que o resultado de 2016 (189,3 milhões). 

No Rio Grande do Sul serão 33,4 milhões de toneladas, estima a Farsul, avanço de 6,2%, impulsionado pelo aumento nas áreas plantadas de arroz, milho e soja.Se o clima ajudar, e até o momento tem sido favorável, a safra gaúcha de soja deve ter um avanço na produção em um momento que o apetite da China pelo grão mostra ainda mais voracidade.

A maior estabilidade da moeda americana também deve dar uma trégua ao produtor e facilitar o planejamento da compra de fertilizantes, fungicidas, herbicidas e inseticidas no primeiro semestre. Ano passado, a oscilação cambial se mostrou um problema para aquisição de insumos. Apesar do cenário de instabilidade na economia em 2016, o Rio Grande do Sul conseguiu manter e até ampliar a produção.

 – Agora devemos avançar mais. Mas precisamos de suporte para isso. Sofremos uma restrição violenta de crédito. O governo tem se preocupado muito com o setor financeiro e pouco com o agronegócio – afirma Décio Teixeira, ex-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado.

Preço do milho traz fôlego

Na contramão da soja, que deve ter uma safra cheia, a produção de milho deve ter uma redução de até 15% no atual ciclo, segundo a Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho). Depois de uma colheita com rendimento recorde e preços em alta no ciclo passado, que impulsionaram o avanço da área plantada pela primeira vez em seis anos, a escassez de chuvas atingiu as lavouras sem irrigação. 

A falta de água durante a formação do grão – quando a planta mais precisa de umidade – deve gerar perda de pelo menos 120 mil hectares, segundo a Apromilho. Mesmo com números não tão favoráveis quanto no ano anterior, produtores seguem animados. 

Até que a colheita da safra ganhe força, a expectativa é de um mercado mais firme, já que os estoques internos estão mais baixos em comparação a anos anteriores.

– O preço não está mais tão atraente como há um ano, é verdade, mas houve venda futura também – lembra o presidente da Apromilho, Claudio de Jesus, que estima que o valor da saca permaneça entre R$ 34 e R$ 35 pelo menos até o final de janeiro. 

A preocupação maior é o acesso ao crédito. A restrição dos bancos, explica Jesus, deve seguir emperrando novos investimentos até que o cenário doméstico comece a dar sinais de melhora.

Volta à produtividade média histórica

Com a fase de plantio recém finalizada, o cultivo de arroz também deve resultar em bons negócios aos produtores. Após um ano prejudicados pelo excesso de umidade – a perda chegou a 16% no Rio Grande do Sul no ciclo passado – arrozeiros esperam uma safra ¿cheia¿, com uma média de produção bastante semelhante aquela obtida entre os anos de 2010 e 2015. 

Estimativa do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) é de que em 2017 sejam colhidos entre 8,2 milhões e 8,4 milhões de toneladas no Estado – resultado bastante próximo da média de 8,3 milhões de toneladas alcançadas entre 2010 e 2015. Com os reservatórios em nível máximo de armazenagem de água para a irrigação, produtores preparam-se para trabalhar no controle de invasoras e pragas com a aplicação de fertilizantes.

A previsão de produtividade média para o Rio Grande do Sul é de 7.554 quilos por hectare (151 sacas/hectare), também similar à média observada pelo Irga nos cinco anos agrícolas anteriores à quebra da última safra. Se confirmado, será 9% maior do que a produtividade média histórica do Estado.

 

Zero Hora, 30/12/2016

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