Entrevistas

Caíque Souza, diretor-executivo da Morro Verde, fala sobre a produção sustentável de fertilizantes

Caíque Souza é diretor-executivo da Morro Verde. Economista formado pela USP e com MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. Possui mais de 15 anos de experiência profissional, tendo atuado nos setores de infraestrutura, agricultura e mineração como executivo na área de finanças, desenvolvimento corporativo e planejamento estratégico.

Sustentabilidade e produção consciente são temas cada vez mais relevantes no mundo dos negócios e das empresas, sendo a redução da emissão de carbono um dos grandes desafios do futuro. Como a Morro Verde tem se posicionado para se tornar uma empresa líder nesta questão?

Mais do que a redução das emissões de carbono, a sociedade e nossa agricultura está pedindo e passando por transformações viscerais; a busca pela segurança alimentar equilibrada associada a transição energética é um caminho sem volta.

Gostamos de usar a palavra sustentabilidade traduzida em equilíbrio e perpetuidade e é dentro deste conceito que a Morro Verde se propõe a atuar como a empresa referência de fertilizantes bio-regenerativos de baixo carbono.

Temos parceiros de referência como Instituto Tótum, ECCON e SGS que certificam e auditam de forma independente a pegada carbono das nossas operações e hoje nossos fertilizantes fosfatados (e misturas com magnésio, enxofre, boro e zinco) possuem intensidade de carbono 95% menor do que outros produtos disponíveis no mercado.

A Morro Verde e nossos fertilizantes de fato atuam como agentes de descarbonização das principais pautas agropecuárias brasileiras (açúcar, etanol, café, milho, soja, pecuária, proteínas em geral). Isto se dá pelo fato que os produtores que usam os produtos MV, conseguem reduzir sua pegada de carbono e além de gerarem créditos e renda adicional, também fornecerem produtos de baixo carbono que já atraem preços premium no mercado.

Aliado a isso, enfrentamos desafios para produzir cada vez mais diante de uma demanda por alimentos que cresce a cada dia. Para a Morro Verde, como é possível realizar uma produção sustentável em larga escala? Isso é viável para a produção de fertilizantes sustentáveis?

Desde o início de nossas operações em 2016, buscamos nos posicionar de forma diferenciada no mercado e suprir a crescente demanda por fertilizantes que atendam de forma eficiente tanto os produtores tradicionais como aqueles que estão buscando migrar para o manejo da agricultura regenerativa.

Este movimento cresce a taxas de mais de 20% ao ano (versus 2-3% dos fertilizantes químicos) assim que gostamos de encarar o desafio de produção em larga escala como uma gigantesca oportunidade para a Morro Verde e para a agricultura brasileira.

Entendemos que fazemos parte de um processo de transição tecnológica na agricultura, mas que temos que fazer a nossa parte, ou seja, disponibilizar as soluções de nutrição de solo para o maior número de produtores, regiões e culturas possível.

Isso envolve, em primeiro lugar, a realização de investimentos em aumento da capacidade produtiva, aliando esse aumento com a baixa intensidade de carbono desses processos. Estamos hoje fazendo investimentos relevantes em adequações para aumentar nosso acesso ao grid do Sistema Interligado Nacional, investindo na instalação de plantas solares e estudando alternativas para, no futuro, zerar a utilização de diesel em nossos equipamentos móveis, usando equipamentos elétricos ou movidos a biogás.

Outro aspecto importante quando se fala em produzir fertilizantes sustentáveis em escala é o tripé comunicação, marketing e P&D. Na medida em que introduzimos novos produtos e protocolos, eles precisam entregar melhor desempenho agronômico, melhor saúde do solo e menor intensidade de carbono do sistema produtivo. Para isso, mantemos diversos programas de pesquisa com pesquisadores renomados, centros de pesquisa especializados e consultorias. Além de mantermos o lastro técnico-científico de todos os nossos produtos, precisamos ser capazes de comunicar isso adequadamente aos produtores e à sociedade.

A Morro Verde possui um projeto de produção de amônia verde e nitrogenadas com baixa emissão de carbono no Paraguai. Quais são os principais desafios atualmente para implementar uma tecnologia semelhante em território brasileiro?

A Morro Verde busca ser a empresa brasileira referência na produção e distribuição dos seis macronutrientes fundamentais a agricultura regenerativa tropical: nitrogênio potássio, fosforo, cálcio, magnésio e enxofre.

Na frente dos fertilizantes nitrogenados, analisamos diversas oportunidades e desde 2021 estamos desenvolvendo projeto no Paraguai para produção de amônia verde e fertilizantes nitrogenados. O projeto já possui estudo de viabilidade completo e nossa expectativa é para a celebração do contrato de fornecimento de energia e definição de parceiros ainda em 2024.

Do nosso lado da fronteira, enxergamos potencial considerável para o Brasil se tornar referência na produção de hidrogênio e amônia verde, pois temos todas as vantagens comparativas para nos tornar líderes mundiais no setor. Contudo, o custo de energia elevado, complexidades fiscais e tributárias e falta de integração da cadeia precisam ser endereçadas de forma mais assertiva dentro do tripé setor privado, academia e governo.

Não obstante, estamos buscando fazer nossa parte e ativamente engajados com alguns parceiros de renome buscando a viabilidade e construção de projeto similar no Brasil.

Assim como em todo processo de inovação e expansão, existem diversos desafios a serem enfrentados. Quais são os principais problemas que a Morro Verde teve que lidar para começar a produzir fertilizantes de baixo carbono e adequados às novas matrizes de uma agricultura mais sustentável, diferenciando-se da maior parte das empresas do setor?

O principal desafio que encontramos ao levar ao mercado soluções inovadoras é a superação do modelo tecnológico atual de produção, que remonta o evento que se chama de Revolução Verde, que emprega e utiliza intensivamente os fertilizantes convencionais, de origem química. Apesar de ter se mostrado um conjunto muito eficaz no sentido de aumentar a produtividade das lavouras ao redor do mundo, no longo prazo as limitações desse modelo, em especial as consequências para a saúde do solo, começaram a se apresentar.

Hoje a grande maioria das empresas do setor já entendeu isso e se vê atualmente um grande movimento em direção a novas práticas, novos produtos como insumos biológicos, fertilizantes especiais e soluções de base orgânica para fertilidade do solo. Contudo, nem sempre foi assim e os pioneiros desse processo acabam carregando o maior peso de acreditar num modelo diferente promover a mudança. Por outro lado, a mudança que estamos vendo no agro brasileiro está ocorrendo de maneira muito acelerada, de forma que o cenário que vivemos hoje é muito diferente do cenário que a Morro Verde viveu no início da sua história, apenas 10 anos atrás.

Acreditamos que a “barreira cultural” está sendo consistentemente superada e que o trabalho desenvolvido nos últimos anos por parte importante da cadeia está rendendo frutos. Estudos científicos, pesquisas agronômicas e um trabalho constante de comunicação junto aos produtores se somou a casos concretos de sucesso que estamos vendo em diversos setores, regiões e culturas, todos de clientes nossos. A tendência agora é que esse movimento ganhe cada vez mais tração e o tema da sustentabilidade esteja cada vez mais presente e cada vez mais definindo o futuro da agricultura brasileira.

Além de questões de infraestrutura e produção, empresas que estão trabalhando de maneira mais sustentável possuem desafios em relação a comunicar isso para seus clientes, incentivando a adesão a novos produtos mais ecológicos. Como a Morro Verde tem lidado com isso?

Todos os produtos da Morro Verde são desenvolvidos a partir de estudos científicos rigorosos desenvolvido junto a instituições de pesquisa, universidades, consultorias e pesquisadores respeitados no Brasil. Desenvolvemos estudos específicos para cada cultura, cada região e qualidade de solo pois isso, acreditamos, afeta diretamente o protocolo a ser utilizado. Como nos preocupamos em demonstram os benefícios de longo prazo dos nossos produtos nas lavouras de nossos clientes, temos estudos rodando há quatro anos. E só quando temos todo o respaldo técnico-científico é que levamos o produto a mercado, municiando nossa força de vendas com as informações técnicas pertinentes, promovendo dias de campo, experimentos com clientes específicos e outras atividades com o objetivo de atingi a massa do mercado.

O desafio da comunicação é mais no sentido percorrer toda essa jornada técnica de pesquisa, desenvolvimento e validação do que a comunicação em si. O produtor está cada vez mais aberto a novidades e inovações – não aventuras – e quando ele vê o resultado acontecendo em dias e experimentos de campo, está aberto a adotá-las. Nosso desafio é, na verdade, fazer a informação chegar. O convencimento vem pelo exemplo.

Agradecimentos e encerramento

Estamos hoje em um novo momento da história da Morro Verde, que foi recentemente brindada pela entrada de novos investidores, que comungam da nossa visão e acreditam na capacidade da empresa em escrever esse novo capítulo. Estamos trazendo ao mercado novos produtos, novos protocolos e parcerias para potencializar uma nova agricultura brasileira, que seja mais sustentável e que tenha o produtor rural e o seu solo no centro de suas preocupações, juntamente com a missão de produzir alimentos e insumos energéticos para o Brasil e o mundo.

Por isso, gostaríamos de agradecer à GlobalFert, que é plataforma essencial para o setor de fertilizantes no Brasil, pela oportunidade de apresentarmos a Morro Verde e nossa visão de um futuro que entendemos como cada vez mais promissor para a agricultura brasileira.

GlobalFert, 14/05/2024.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo