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Dependência externa e cenário geopolítico desafiam setor de fertilizantes, avalia Antonino Gomes no OGF 2025

Diretor executivo da AMA Brasil aponta riscos logísticos, instabilidade nos preços e necessidade de planejamento para a próxima safra.

Durante o evento de lançamento da 6ª edição do Outlook GlobalFert, realizado no dia 30 de maio de 2025, o diretor executivo da Associação dos Misturadores de Adubo do Brasil (AMA), Antonino Gomes, concedeu entrevista exclusiva à GlobalFert. Com mais de 70 empresas associadas, a AMA representa parte significativa da cadeia de mistura e distribuição de fertilizantes no país.

Antonino fez uma análise abrangente dos desafios vividos em 2024 e os principais riscos e oportunidades para o setor em 2025, com foco na logística, tributação, preços internacionais e oferta global de matérias-primas.

2024: estabilidade no volume, mas incerteza no ambiente

Segundo Gomes, o mercado de fertilizantes em 2024 manteve praticamente o mesmo volume de entregas de 2023, refletindo uma estratégia dos produtores de reduzir aplicações e aproveitar nutrientes já presentes no solo.

“Foi um ano em que o agricultor fez uso da reserva de nutrientes acumulada, como forma de reduzir custos diante das incertezas”, explicou. Apesar disso, as boas safras foram mantidas, e o cenário para 2025 é considerado desafiador, mas com otimismo moderado.

Dependência de importações

O diretor da AMA reforçou um dado preocupante: o Brasil ainda depende de mais de 90% de insumos importados para a produção de fertilizantes. Isso torna o setor altamente vulnerável a flutuações cambiais, guerras, sanções e barreiras tarifárias.

“É comum ouvirmos 85%, mas é mais que isso. É mais de 90%. Essa dependência nos deixa expostos”, alertou. A logística complexa — baseada quase exclusivamente no transporte rodoviário — e a concentração das decisões de compra em janelas curtas aumentam os riscos de gargalos.

Impacto da guerra, ICMS e desestímulo à produção nacional

Gomes também comentou os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que gerou picos especulativos nos preços, especialmente do cloreto de potássio, mas cujos impactos foram rapidamente normalizados com a reorganização do comércio global via China.

Outro fator crítico foi a mudança na cobrança de ICMS sobre fertilizantes, que elevou custos para o produtor e, segundo ele, não trouxe benefício real ao setor. “A medida encareceu o produto para o agricultor em até 8%, sem cumprir o propósito inicial. Foi ineficaz e prejudicial”, avaliou.

MAP segue em alta e preocupa indústria

Entre os principais produtos utilizados na mistura de fertilizantes, o MAP (fosfato monoamônico) segue como um dos mais caros e instáveis. Enquanto ureia, TSP e cloreto de potássio voltaram a patamares anteriores à crise, o MAP continua em alta.

“Ele descolou do mercado e ainda não apresenta tendência de queda. Isso pressiona os custos e exige alternativas por parte das misturadoras”, comentou.

Perspectivas para a safra 2025/26: atenção ao crédito, clima e endividamento

Com previsão de safra recorde de soja e outras culturas, a expectativa é de aumento na demanda por fertilizantes. No entanto, Antonino alerta para riscos importantes:

  • Estatísticas do setor estão defasadas em até 3 meses, dificultando o planejamento.
  • Quebras de safra regionais e inadimplência podem limitar o crédito para novos ciclos.
  • O Plano Safra 2025/26 ainda não teve valores oficialmente divulgados, gerando incerteza.

“O agricultor brasileiro é resiliente, mas precisa de apoio”

Antonino concluiu com um recado direto ao produtor rural: “O agricultor brasileiro tem DNA agrícola. Mesmo com conflitos internos e externos, ele continua acreditando e produzindo. Nossos associados da AMA Brasil estão prontos para apoiá-lo no que for preciso.”

📺 Assista à entrevista completa no canal oficial Globalfert: Clique aqui

GlobalFert, 25/06/2025.

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