Entrevistas

GlobalFert entrevista a Yara, contando sobre como foi o mercado de fertilizantes no Brasil no último ano e perspectivas para o futuro.

Confira a entrevista exclusiva com Diogo Micaelia, Gerente de Inteligência de Mercado da Yara Brasil.

GlobalFert: Hoje, mais de 20% de todo fertilizante que chega ao Brasil é russo, quais as possíveis soluções para redução dessa dependência, sentida drasticamente em 2022?

Diogo Micaelia: O conflito entre Rússia e Ucrânia em 2022 trouxe impactos severos no mercado de fertilizantes e cada empresa traçou uma estratégia para não deixar os clientes desabastecidos. Nós da Yara, que somos um dos líderes globais no setor de nutrição de plantas, contamos com uma das melhores cadeias de fornecedores de matérias-primas do mundo que, em um cenário de turbulências geopolíticas, respalda a solidez das operações e relacionamentos comerciais conquistados nos mais de cem anos de existência.

Sabemos, porém, que reduzir a dependência externa por insumos é um tema de grande importância para a segurança operacional do agronegócio no Brasil e os acontecimentos de 2022 trouxeram a luz esse risco que, em momentos mais estáveis, normalmente atrai pouca atenção. A Yara acredita que o Plano Nacional de Fertilizantes é extremamente relevante e um indicativo neste caminho ao tratar de um conjunto de iniciativas que visa transformar a infraestrutura nas próximas décadas para que o Brasil possa produzir pelo menos a metade dos fertilizantes que consome. O lançamento do plano é um bom primeiro passo, mas, para que este se torne realidade, somente uma elevação significativa de competitividade da produção nacional, somada a uma maior segurança relacionada ao acesso à matérias-primas com custos competitivos (gás natural, principalmente, no caso de nitrogenados) e à regras tributarias mais estáveis, vão fazer que os investidores se sintam confiantes o suficiente para realizar esses elevados investimentos em um mercado tão volátil como é o de fertilizantes.

GlobalFert: Ao longo de 2022, a Europa passou por um momento de crise energética, com a redução das exportações de gás natural por parte da Rússia. Esse cenário ainda se mantém, mas com estoques confortáveis para o continente (80%). Entretanto, há perspectivas de que o El Ninõ possa impactar em um inverno mais rigoroso e os atuais conflitos no Níger e Austrália também geraram especulações no mercado. Quais são as perspectivas de vocês para os fertilizantes nitrogenados ao longo do inverno de 2023?

Diogo Micaelia: Se confirmando esse inverno rigoroso, a expectativa é que o gás siga pressionando a formação de preço dos produtos nitrogenados, principalmente porque um aumento do gás pode resultar na parada de produção de algumas plantas que tem maior custo de produção, geralmente na Europa. Ainda assim, outros fatores devem ser tão ou mais importantes do que o gás na formação do preço dos fertilizantes. Do lado da oferta, há uma disponibilidade limitada por parte da China, que tem imposto restrições às exportações. Do lado da demanda, há um represamento por parte da Brasil, Europa e, principalmente, da Índia, que ainda precisa comprar um grande volume até o fim deste ano. O nitrogenado deve continuar instável, mas não se espera uma redução de preços significativa por conta dessa combinação de fatores.

GlobalFert: Hoje, mais de 80% de todo fertilizante consumido no Brasil é importado. Quais são as projeções de novos investimentos da Yara no Brasil?

Diogo Micaelia: A Yara investiu R$ 15 bilhões nos últimos 10 anos em sua operação no Brasil, seja na aquisição, expansão ou modernização de suas unidades. Como resultado de investimentos contínuos, neste ano uma das nossas unidades, o Complexo de Rio Grande, o maior e mais moderno parque de Produção, Mistura e Expedição de fertilizantes da América Latina, já atua pela primeira vez com 100% de sua capacidade produtiva. A unidade teve aportes de R$ 2,1 bilhões entre 2016 e 2022 e, em 2023, mais R$ 150 milhões em melhorias operacionais na planta. Com isso, o Complexo atingiu a capacidade plena com volume de granulação de fertilizantes de 1,1 milhão de toneladas por ano (em sua maioria produtos de alta tecnologia) e capacidade da parte de distribuição, mistura e ensaque de 2,2 milhões de toneladas/ano, possibilitando o envio de insumos de alta tecnologia a diversos estados brasileiros. Vale ressaltar a aquisição de um shiploader em 2022, equipamento que viabilizou a primeira operação de cabotagem levando fertilizantes premium para a região Nordeste do país.

Hoje, o foco e o interesse estratégico da empresa são baseados em sua ambição de cultivar um futuro alimentar positivo para a natureza, investindo em soluções para a cadeia alimentar, descarbonização, digitalização e produção de amônia verde. E aqui temos o projeto de substituição do gás natural por biometano no Complexo Industrial de Cubatão (SP), por exemplo. Em 2024, serão recebidos diariamente em nossa unidade 20 mil m3 de biometano, possibilitando a produção de amônia verde e, consequentemente, fertilizante verde e soluções industriais.

GlobalFert: A demanda mundial por fertilizantes aumentou ao longo dos últimos meses. Qual a expectativa da Yara para o segundo semestre no mercado de fertilizantes?

Diogo Micaelia: A Yara está em linha com a expectativa do mercado, que é um consumo entre 43 e 44 milhões de toneladas em 2023, volume este que voltaria a crescer após a redução ocorrida em 2022.  Sobre as entregas no segundo semestre, esperamos um crescimento significativo no volume em comparação ao mesmo período no ano anterior, devido não somente a um maior investimento por parte do produtor, mas também a uma maior concentração das entregas no segundo semestre. O produtor demorou para tomar a decisão de compra, apostando na queda do preço do fertilizante. Esse atraso teve um impacto negativo nas entregas no segundo trimestre, postergando parte desses volumes para o terceiro e quartos trimestres. Outro impacto desta demora na compra foi a também postergação de decisão de importação por parte do setor, resultando em filas acima do esperado nos portos que, além de gerar um custo extra para o setor, tem atrasado o desembarque dos produtos, resultando em escassez de matérias-primas nos últimos meses e um pico de preços em agosto e setembro.

GlobalFert: Sabemos que com a guerra houve maior dificuldade para as negociações no Brasil, referente ao próximo ano quais estão sendo as estratégias que a Yara está tomando para atrair maior número de vendas e aumentar seu market share no Brasil?

Diogo Micaelia: A guerra impactou o setor em nível global e ainda afeta a todos, com efeitos diretos ao sistema alimentar, seja pelo comprometimento da própria produção agrícola dos países envolvidos ou do fornecimento de matérias-primas, como o gás natural e fertilizantes. O Brasil, hoje, representa parte expressiva do faturamento mundial da Yara e do volume de entrega de fertilizantes global, por isso temos sido desafiados a melhorar de forma contínua a produção brasileira, otimizando processos logísticos e permanecendo atentos aos processos de qualidade, sempre alinhados aos desafios globais de meio ambiente.

A Yara é conhecida por seus produtos de alta tecnologia e que resultam em uma maior produtividade para o produtor, sem gerar o impacto ambiental dos produtos convencionais. Desenvolver mercado para esses produtos continua a ser o foco da empresa. Os agricultores sabem do valor agregado que o fertilizante traz para suas lavouras e, por isso, têm investido cada vez mais em soluções nutricionais, principalmente em fertilizantes especiais, que os ajudam a maximizar a produtividade e a lucratividade, além de ser sustentável.

GlobalFert, 17/10/2023.

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