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APM defende ampliação de Itajaí para ganhar escala

A operação de contêineres no porto de Itajaí (SC) pode abrir nova discussão entre iniciativa privada e governo sobre o aumento de capacidade em terminais portuários. A APM Terminals, responsável pela movimentação de contêineres em Itajaí, quer expandir o seu terminal arrendado para área contígua no porto público. A empresa quer investir R$ 170 milhões no projeto, mas tem preocupação de que o governo opte por licitar um novo terminal de contêineres na vizinhança. O receio se baseia em discussões semelhantes que envolveram recentemente os portos de Paranaguá (PR) e Salvador (BA).

A Superintendência do Porto de Itajaí concorda com a expansão da APM Terminals por considerar que, se o porto for “retalhado”, vai se criar uma concorrência predatória entre dois terminais. Ao fracionar o porto, não irá se privilegiar a escala e o porto vai perder competitividade, disse Antonio Ayres, superintendente do porto de Itajaí. Mas embora apoie o pleito da APM Terminals, um dos maiores operadores portuários do mundo, controlado pelo grupo dinamarquês APMM, a Superintendência de Itajaí tem uma visão um pouco diferente da empresa sobre como deve se dar essa expansão.

Ayres disse que a superintendência apresentou à Secretaria de Portos (SEP) e à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) proposta para permitir que a APM Terminals ocupe só um dos dois berços de atracação de navios no porto público (o chamado berço nº 3). A empresa teria direito na expansão a cerca de 50 mil metros quadrados na retroárea para armazenagem dos contêineres. O outro berço do porto (nº 4) seria licitado para um terminal de veículos e carga geral que também contaria com cerca de 50 mil metros quadrados de retroárea.

A APM Terminals tem interesse no “adensamento” dos berços números 3 e 4 e das respectivas retroáreas atrás do cais, que totalizam 105 mil metros quadrados. Hoje a empresa tem sob concessão em Itajaí, em contrato que vence em 2022, 75 mil metros quadrados de área e dois berços (nº 1 e 2) que totalizam 560 metros de extensão. Esses berços não conseguem receber dois navios de grande porte de forma simultânea, pois as embarcações cresceram de tamanho nos últimos anos. Os dois berços no porto público, na vizinhança, têm juntos 470 metros de extensão.

Se a empresa for bem-sucedida nas discussões, poderá ficar com 1.030 metros de cais linear. Além do terminal arrendado, a APM Terminals opera contêineres no porto público pagando tarifas de movimentação à superintendência. A empresa ocupa toda a retroárea ligada aos berços 3 e 4. O diretor-superintendente da empresa, Ricardo Arten, disse que, se o berço 4 for dedicado a automóveis, a Superintendência de Itajaí, um porto delegado ao município catarinense homônimo, teria de oferecer uma alternativa à empresa.

Segundo Arten, Itajaí está inserido no bloco 4 de licitações portuárias do governo. O ministro-chefe da SEP, Antonio Henrique Silveira, disse que o bloco 4 ainda não foi nem a consulta pública. “O bloco 4 não está no radar ainda, a prioridade é o bloco um [Santos e Pará]. Ainda haverá enormes oportunidades de discutir o bloco 4”, disse Silveira. Seja como for, a APM Terminals está se precavendo. Em Paranaguá, a SEP decidiu retirar o novo terminal de contêineres do pacote de licitações depois de críticas ao projeto. Em Itajaí, as discussões devem incluir ainda a antecipação da renovação do contrato da APM para permitir que a empresa faça os investimentos.

Arten disse que a adequação do terminal da APM Terminals em Itajaí é necessária em um ambiente de maior competição entre terminais de contêineres em Santa Catarina, onde passaram a operar terminais privados nos últimos anos. Um deles, o da Portonave, fica em frente ao da APM Terminals, na outra margem do rio Itajaí-Açu, no município de Navegantes (SC). Juntos, os dois terminais formam o complexo portuário de Itajaí, o segundo em movimentação de contêineres no país, atrás de Santos. Só a APM Terminals deve movimentar 290 mil contêineres este ano, cerca de 15% acima das 253 mil unidades do ano passado. Em janeiro, a empresa vai entregar o berço 1 do terminal, reconstruído com investimentos de R$ 95 milhões depois das enchentes de 2011.

Valor Econômico, 10/12/2013

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