Logística

Norte de Santa Catarina sofre com ameaça de gargalo logístico

Região economicamente rica, com geração de empregos e alta produção industrial. Os últimos dados divulgados até podem ter mostrado uma pequena redução nos números, mas o fato é que as regiões Norte e Nordeste de Santa Catarina ainda são uma potência econômica para o Estado. E a produção precisa escoar de alguma maneira. Para isso, o terminal portuário de São Francisco do Sul tem sido a porta de entrada ou saída de milhares de mercadorias.

O problema é justamente chegar à cidade portuária. Há anos trafegar pela BR-280 se tornou tarefa complicada para trabalhadores ou turistas. Uma alternativa poderia ser a ferrovia. Mas a falta de infraestrutura e os meses, até anos de atraso nas obras do contorno ferroviário resultam em outros transtornos, como filas e congestionamentos nas regiões urbanas dos municípios do Norte.

E se hoje a situação já beira o caos, em um ou dois anos será muito pior. São mais de R$ 1,5 bilhão em investimentos privados, a maioria já confirmados. Alguns ainda dependem de aprovações de projetos, autorizações ou licenças ambientais. São recursos vindos da iniciativa privada, projetos que tendem a ampliar o potencial de escoamento de São Francisco para o mar. Mas por terra o governo federal não tem feito sua parte.

De fato a situação só tende a piorar e um grande gargalo logístico se anuncia para logo. Se toda a produção e investimentos parassem agora, a situação já seria preocupante por falta de investimentos públicos, principalmente em infraestrutura urbana. Hoje, quem depende da BR-280 para trabalhar, por exemplo, reclama de uma série de problemas, como filas e congestionamentos em determinados horários. Turistas enfrentam horas de trânsito lento, muitas vezes totalmente parado, para se deslocar de Joinville a uma das praias de São Francisco do Sul.

E tudo isso sem falar nas inúmeras mortes que assombram a rodovia federal. Só em 2014 já são pelo menos 35 no trecho a ser duplicado, entre São Francisco e Jaraguá do Sul, segundo a Polícia Rodoviária Federal. O número já supera o ano anterior.  Várias ações têm sido feitas para mudar essa realidade e forçar o governo federal a de fato colocar a mão na massa e iniciar as obras de duplicação. No entanto, tudo caminha a passos lentos.

Planos de investimentos superam R$ 1,5 bilhão

Grandes empresas e acionistas têm investido no complexo portuário de São Francisco do Sul, buscando estimular ainda mais a atividade portuária e a indústria naval. Com mais de R$ 1,5 bilhão de recursos privados para os próximos dois anos, a região promete um desenvolvimento considerável. Um dos investimentos já autorizados pela Secretaria Especial de Portos da Presidência da República é a construção do TGSC (Terminal de Grãos de Santa Catarina), a um valor de R$ 419 milhões.

O investimento prevê a construção de dois berços, um deles apenas para a movimentação de grãos. Isso porque São Francisco ocupa hoje a 11ª posição no ranking nacional de exportações de grãos e já reclama um porto exclusivo para movimentação de milho e soja, por exemplo. A nova estrutura será capaz de armazenar até 275 mil toneladas e movimentar 6 milhões de toneladas de grãos por ano.

Esse empreendimento, o TGSC, é um investimento das empresas LogZ, Litoral Agência Marítima e do grupo chinês Hopeful e deve ficar pronto até o início de 2016. Ele estará localizado ao lado do Porto de São Francisco do Sul, no morro de Bela Vista. Outro grande investimento previsto é o da trading japonesa Marubeni. O projeto de expansão prevê um investimento de R$ 230 milhões.

A Marubeni é responsável por boa parte da exportação de soja em São Francisco do Sul, por meio da Terlogs Terminal Marítimo. E o projeto de expansão da empresa prevê a ampliação na capacidade de embarque e desembarque de granéis, fertilizantes e cargas gerais, com a construção de um novo berço marítimo no local.

Com previsão de entrar em operação em 2016, a CMO Construção e Montagem Offshore vai investir R$ 650 milhões na construção de estaleiro para plataformas de óleo e gás. Os trabalhos de construção estão previstos para iniciar já em 2015. A obra será em um terreno de 9 milhões de metros quadrados e a área construída deverá ser de 500 mil metros quadrados.

Há 11 anos em São Francisco do Sul, a ArcelorMittal Vega prevê a aplicação de um aporte financeiro de US$ 32 milhões (R$ 86 milhões cotação de 15/12) para 2015, com US$ 17 milhões destinados para obras de melhorias e aquisição de novos equipamentos. O primeiro projeto, Vega Light, deve aumentar a capacidade anual de 1,44 milhão de toneladas para 1,60 milhão de toneladas. Esta etapa deve ser concluída ainda em 2015.

Já as obras do projeto Usibor® – aço de alta resistência com aplicação na indústria automotiva –proporcionarão um desafio maior em função da engenheira e da necessidade de desenvolver tecnologia para manusear três potes (que fazem o revestimento da chapa). A conclusão está prevista para junho de 2015.

Outros R$ 300 milhões devem ser investidos pela Companhia de Navegação Norsul, que transporta bobinas laminadas a quente entre Tubarão (ES) e São Francisco do Sul (SC). A empresa realizou um estudo para implantação de um Terminal Portuário Privado na Baía da Babitonga – o Projeto Mar Azul. 

Porto de São Francisco do Sul tem planos de expansão, mas depende de infraestrutura

O ano de 2014 ainda não terminou, mas um balanço prévio até novembro mostra uma movimentação de 12.517.060 toneladas de cargas apenas no Porto público de São Francisco do Sul. Na importação foram 5.079.116 de toneladas. Já os produtos exportados (cabotagem e longa distância) somaram 7.437.944 toneladas. Segundo a própria assessoria do Porto, as principais cargas movimentadas são soja, milho, trigo, soda, fertilizantes, madeira, chapas de aço.

Em 2013, a movimentação ficou em torno de 13 milhões de toneladas e a expectativa era justamente manter os números. Toda essa mercadoria e também a dos portos privados, passa por outro meio de transporte além dos navios, como trem ou caminhões. A malha ferroviária conecta o Porto de São Francisco do Sul com várias regiões economicamente importantes do Sul do Brasil. Esse é o principal modal de cargas a granel no Porto de São Francisco, com 62% contra 38% pelo modal rodoviário.

“Estamos investindo em diversas melhorias, como alargamento do canal de acesso para que possamos receber navios maiores, em iluminação, segurança, reformando o sistema elétrico. Essas melhorias precisam ser acompanhadas de avanços também no acesso terrestre e ferroviário ao porto para que o complexo cresça, impulsionando, dessa forma, o desenvolvimento econômico de todo o Estado”, afirma Paulo Corsi, presidente do Porto de São Francisco do Sul.

Em setembro, ministro-chefe da Secretaria dos Portos, César Borges, esteve em São Francisco do Sul para assinar o contrato de prorrogação da delegação do porto ao governo catarinense por mais 25 anos. Naquela oportunidade Borges garantiu que o município estaria incluso em um novo pacote de investimentos do governo federal no setor portuário.

Segundo ele, devem ser aplicados R$ 400 milhões em Imbituba e São Francisco. No porto da região Norte as obras previstas são ampliação dos cais e dos berços e a dragagem, com objetivo de habilitar o terminal para receber navios maiores.

Notícias do Dia, 26/12/2014

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