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Com 2014 difícil, Vale prevê minério a preços mais altos

À frente da Vale desde 2011, Murilo Ferreira admite viver o momento mais difícil de sua gestão. Desde que assumiu a maior mineradora global, o executivo já enfrentou disputas tributárias e problemas em megaprojetos internacionais como Rio Colorado, na Argentina, e Simandou, na Guiné, em que a Vale teve que realizar baixas contábeis. Ainda assim, considera 2014 um ano crítico.

A avaliação é motivada pelo cenário econômico e pelos preços do minério de ferro rompendo a barreira dos US$ 70 por tonelada, o mais baixo patamar dos últimos cinco anos.

O executivo trabalha com preços na faixa de US$ 83 a US$ 85 a tonelada em 2015, que considera o ponto de equilíbrio do mercado.

Em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, Ferreira afirma que seguir o mantra da disciplina de capital é mais importante do que nunca. “Nós temos de ser absolutamente obstinados em fazer mais por menos”, diz.

A Vale anunciará um orçamento inferior aos US$ 12,5 bilhões inicialmente previstos para 2015 em uma reunião com acionistas em Nova York no próximo dia 2.

No encontro, Ferreira promete detalhar qual será a equação da Vale para manter uma política de dividendos atraente diante da derrocada da cotação do minério de ferro, seu principal produto, e um cardápio de desinvestimentos mais enxuto.

Os dividendos pagos pela Vale vêm recuando sistematicamente: US$ 9 bilhões em 2011, US$ 6 bilhões em 2012, US$ 4,5 bilhões em 2013 e US$ 4,2 bilhões em 2014.

Analistas temem que em 2015 a Vale não tenha uma geração de caixa livre capaz de remunerar os acionistas de forma satisfatória.

Segundo ele, a Vale paga a maior remuneração da indústria de mineração.

“Realmente 2015 e 2016 serão anos atípicos por conta do volume que teremos que investir, mas você pode ter certeza que nós privilegiaremos uma prudência no endividamento da empresa acompanhada de um pagamento de dividendos saudável”, diz.

Os investimentos a que se refere são na maior parte relativos à conclusão do projeto Serra Sul, no Pará, que tem início de operação previsto para 2016.

Com produção estimada em 90 milhões de toneladas anuais de minério de ferro, ele é o maior investimento da história da Vale (US$ 19,5 bilhões).

O presidente da Vale antecipa que anunciará aos investidores em Nova York um custo de produção inferior aos US$ 15 por tonelada divulgados para Serra Sul.

O custo operacional médio do minério da Vale é hoje de US$ 23 por tonelada colocada no navio, com expectativa de redução a US$ 20 nos próximos três anos, conforme apresentação feita por executivos em uma conferência do Goldman Sachs, na semana passada.

Minério subavaliado

Ferreira é taxativo em dizer que as minas da Vale – à exceção de uma unidade em Corumbá – são competitivas mesmo com preços a US$ 65 por tonelada em 2015, cenário que chegou a ser traçado por analistas do Citibank.

Para o executivo, o minério de ferro está longe do preço de equilíbrio. Ferreira trabalha com a cotação de US$ 83 a US$ 85 por tonelada para próximo ano.

“Pelos modelos de oferta e demanda, o preço atual está fora do ponto. Está excessivamente desvalorizado”, decreta.

A convicção do comandante da Vale é de que, caso a cotação da commodity chegue a esses US$ 65 a tonelada, haverá um ajuste violento, com redução substancial da oferta.

A saída de produtores de alto custo e baixa qualidade do mercado é dada como certa por Ferreira, mas ele discorda que a resistência de produtores chineses menos competitivos esteja surpreendendo.

“Os preços estão abaixo de US$ 90 por tonelada há dois, três meses. Ninguém toma a decisão de fechar uma mina, que envolve custos da noite para o dia.”

Ferreira rechaça também a afirmativa de que a Vale, a exemplo de outras gigantes como BHP e Rio Tinto, seja agressiva na expansão da apesar do ciclo de baixa de preços. Só Serra Sul jogará mais 90 milhões de toneladas de minério no mercado a partir de 2016.

A estimativa é que a produção de minério da Vale saia de 321 milhões de toneladas em 2014 para 453 milhões em 2018.

“Não temos tido política agressiva de colocação no mercado. Temos praticamente a mesma produção desde 2006”, ponderou.

Desinvestimentos

A Vale anunciará ainda este ano a venda de parte de sua operação de carvão em Moçambique. O modelo seguirá o que vem sendo anunciado: metade da fatia da Vale (de 70%) no corredor logístico Nacala e de 15% a 25% da mina de Moatize irão para um novo investidor.

Na divulgação de resultados do terceiro trimestre, Ferreira disse que o valor do negócio surpreenderá.

Após o anúncio, as opções de desinvestimento da Vale ficam mais limitadas. Em 2013, a companhia arrecadou US$ 6 bilhões com a venda de ativos como fatias na VLI e na empresa de alumínio Norsk Hydro.

A mineradora ainda pode negociar sua participação na fabricante de bauxita MRN e navios Valemax.

Há ainda a perspectiva de encontrar sócios para a área de fertilizantes, onde a companhia sofreu um revés ao abandonar em 2013 o megaprojeto Rio Colorado, na Argentina, após desentendimentos com o governo local.

A empresa está desenhando uma nova estratégia com players globais. A avaliação é que o Brasil não tem reservas expressivas de potássio e fosfato, por isso, a empresa terá que desenvolver ativos no exterior.

“Temos convicção de que o Brasil será o número um em alimentos do mundo e queremos ser o grande fornecedor de fosfato e potássio no mercado nacional”, diz Ferreira.

A Vale poderá fazer associações em nível de holding ou de projetos. Em sua carteira de fertilizantes a empresa tem projetos específicos como Carnalita, em Sergipe, e Kronau, no Canadá. 

O Estado de S. Paulo, 27/11/2014

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