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Fertilizantes organominerais: cresce a opção pela eficiência e sustentabilidade das adubações

Com a elevada demanda nutricional das diferentes culturas agrícolas, visando o alcance de altas produtividades, cresce também a procura por fontes alternativas e mais eficientes de fertilizantes. As características da maior parte dos solos brasileiros demandam um manejo que contemple atenção à fatores específicos, limitantes da produtividade. Neste sentido, a adoção de estratégias de correção associada ao manejo da adubação do solo com fertilizantes que resultem em melhor aproveitamento e maior efeito residual dos nutrientes, além de incrementos gradativos em bioindicadores da saúde do solo, tem se mostrado grandes aliados.

Os FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS (FOM’s) fazem parte do grupo de fertilizantes especiais e são produtos resultantes da mistura física, na forma líquida, farelada, granulada ou peletizada, de fertilizantes minerais concentrados, com fontes de matéria orgânica estabilizada e aditivos. Além da agregação de nutrientes à mistura, a fonte orgânica é veículo de ácidos orgânicos, especialmente húmicos e ácido fúlvico, assim como de vários outros componentes, que podem resultar em efeitos favoráveis aos parâmetros químicos, físicos e biológicos do solo. A literatura dispõe por exemplo, de um vasto volume de pesquisas associadas a moléculas de ácidos húmicos, comprovando que estes compostos interagem com receptores na superfície celular que, por sua vez, transmitem um sinal para dentro da célula, desencadeando o aumento da plasticidade da parede celular, elongação da célula vegetal e o consequente incremento da área radicular nas plântulas.

Essa classe de fertilizante, atua de forma positiva no tripé da sustentabilidade, do ponto de vista social, através da geração de empregos; ambiental, devido à correta gestão de subprodutos e resíduos orgânicos; e econômico, em função do maior aproveitamento de nutrientes pelas plantas. Assim, constituem numa fonte de fertilização altamente viável, que prioriza o aumento da participação de matéria prima de origem nacional, reduzindo a dependência de fertilizantes externos. Temos no Brasil, em praticamente todas as regiões, excelentes fontes de matéria orgânica à disposição da indústria, que vão desde a TURFA e cama de frango, componentes de alto valor agregado a alternativas como subprodutos de biodigestores, torta de filtro e resíduos da indústria do eucalipto.

Para se ter a dimensão do desafio, em 2023, segundo a ANDA, a dependência de fertilizantes importados, subiu para 86%, como resultado de uma entrega de fertilizantes 11,6% superior ao ano anterior. Equivale dizer que dos 45,82 milhões de toneladas de adubos entregues no ano passado, apenas 6,79 foram produzidos no Brasil, volume insuficiente para atender estado do Mato Grosso, cuja demanda aproxima-se de 10,5 milhões.

Dentre os principais benefícios relatados em inúmeras pesquisas com as mais importantes plantas cultivadas, temos que, a associação entre a matéria orgânica estabilizada e a fonte mineral, efetivamente pode promover um efeito condicionador no solo. Destaca-se ainda, em relação ao fertilizante mineral convencional, sua solubilização gradativa, promovendo a liberação controlada de nutrientes e um maior efeito residual do fertilizante para o cultivo subsequente. Todavia, a redução de doses na recomendação de adubação com organomineral, requer muito critério, a avaliação de diversos fatores em conjunto e ainda é objeto de estudos para cada situação.

Muitos trabalhos têm apontado ainda, que do ponto de vista químico, o FOM promove um aumento na capacidade de troca catiônica (CTC) do solo e tende a minimizar a perda de nutrientes por lixiviação/volatilização (Nitrogênio, Potássio e Sulfatos) e fixação (Fósforo), permitindo o seu maior aproveitamento pelas plantas. A médio e longo prazos, nas propriedades físicas do solo, esse fertilizante promove maior agregação das partículas, atuando na estabilização da matéria orgânica do solo (MOS), maior retenção de água e consequentemente um melhor enraizamento da planta em um solo mais estruturado.

Dentre as fontes de fertilizantes, o FOM atende não só o objetivo principal de um fertilizante que é suprir a demanda nutricional da planta, mas promove também incrementos no aspecto biológico do solo, fornecendo material orgânico com maior ativação e crescimento de microrganismos benéficos, maior aporte de carbono, ciclagem de nutrientes e maior atividade enzimática (beta glicosidase, arilsulfatase e fosfatase ácida). Desde que atendidas as exigências mínimas descritas na Instrução normativa do n°61, de 8 de julho de 2020 do MAPA, faculta ao fabricante do FOM, promover o enriquecimento de seu produto com micronutrientes e aditivos, ou mesmo microrganismos comprovadamente benéficos.

Não por acaso, o mercado de fertilizantes organominerais teve um crescimento de 22,7% em 2022 (Abisolo, 2023), resultado da difusão da tecnologia nos diferentes seguimentos de cultivo. A forma farelada, é muito difundida em aplicações para as culturas como café e cana de açúcar em produção, além de aplicações a lanço no plantio. O pellet devido ao seu formato, apresenta maior uso no sulco de plantio de diferentes culturas agrícolas, enquanto o FOM GRANULADO, destina-se principalmente para culturas como soja, milho e feijão, devido sua melhor aplicabilidade operacional, por permitir o emprego dos mesmos equipamentos utilizados para plantio com fertilizante mineral convencional.

É importante reconhecer, a recente e imensa evolução dos processos industriais desenvolvidos especificamente para fabricação do FOM, mérito do investimento em P&D e da qualificação e criatividade da indústria nacional, seguramente a mais avançada do mundo neste seguimento.

 Imperativo destacar, que o produtor deve proceder a escolha e adoção do FOM com rigor e critério técnico. Os benefícios e vantagens comprovados, requerem um produto de boa qualidade utilizando os melhores insumos com os devidos processos de ativação biológica e nutrientes nas formas disponíveis às plantas que atenda às garantias oficiais exigidas. Desta forma, o papel do engenheiro agrônomo será igualmente essencial, promovendo a recomendação do fertilizante bem-posicionada no campo para atender a demanda nutricional das plantas e a realidade de produtores das mais diferentes regiões.

Autores

Dr. Reginaldo de Camargo – Prof. Titular da Universidade Federal de Uberlândia – Coordenador do Grupo de pesquisa em Fertilizantes Especiais (GPFE) da UFU.

Dra. Raquel Pinheiro da Mota – Consultora técnica e membro do GPFE.

Referências bibliográficas

ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubos. Principais indicadores. Acesso em 18 de maio de 2024. Disponível em: https://anda.org.br/wp-ontent/uploads/2024/03/Principais_Indicadores_2023.pdf.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE TECNOLOGIA EM NUTRIÇÃO VEGETAL – ABISOLO. Anuário Brasileiro de Tecnologia em Nutrição Vegetal. 2023. Acesso em 18 de maio de 2024. Disponível em:  https://www.abisolo.com.br/release/fertilizantes-especiais-apresentaram-crescimento-de-332-em-2022/.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – MAPA. Instrução normativa n°61, de 8 de julho de 2020. Estabelece as regras sobre definições, exigências, especificações, garantias, tolerâncias, registro, embalagem e rotulagem dos fertilizantes orgânicos e dos biofertilizantes, destinados à agricultura. Diário Oficial da União, seção 1, p. 5, 2020.

Agrária Fertilizantes, 21/05/2024.

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