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Unigel tenta renegociar dívidas de R$3,7 bilhões em meio a cobrança de debentures

Em meio a um processo de renegociação de dívidas de R$ 3,7 bilhões que se arrasta há mais de seis meses, a Unigel uma das mais tradicionais indústrias químicas do Brasil pediu ontem proteção contra execução de dívidas por 60 dias, mas teve o pleito negado pela Justiça. 

O pedido veio junto com outro, de mediação cautelar com os credores, uma etapa que significa um chamado aos credores para negociar em ambiente supervisionado, uma espécie de antessala de uma recuperação judicial. 

“O processo de mediação garante um ambiente organizado para que possamos continuar as tratativas com os demais credores de forma estruturada, visando uma solução negociada, que entendemos ser a melhor alternativa para todas as partes envolvidas”, disse Roberto Noronha Santos, CEO da Unigel, em nota.

Diante da decisão tomada ontem à noite, entretanto, a companhia fica ‘sob ataque’, o que dificulta a negociação entre um lado e outro. No mercado, a percepção é que será difícil barrar a execução das dívidas sem uma RJ. 

“A recuperação judicial inclui outros credores além do financeiro, como fornecedores e engessa mais os processos porque tudo precisa passar pelo crivo do Juízo”, aponta uma fonte especializada em recuperação judicial. 

A situação esquentou ontem, quando detentores de R$ 500 milhões em debêntures que venceriam apenas em 2027 decidiram executar a dívida, depois de declararem o vencimento antecipado dos títulos na última semana. Segundo fontes próximas às negociações, o grupo, que representa a menor parte da dívida – majoritariamente concentrada com bancos e bondholders, vem afirmando que estava sendo deixado em segundo plano na negociação. 

A Unigel não apresentou os últimos dois balanços trimestrais, onde ficaria claro o estouro dos covenants que limitam a dívida líquida a 3,5 vezes seu Ebitda. No primeiro trimestre do ano (último resultado disponível), o indicador está em 2,16 vezes e desde então, a situação da empresa se deteriorou. 

Diante dessa situação, numa assembleia realizada no dia 5 de setembro, os debenturistas concordaram com um waiver, mediante o compromisso de que seria oferecida alguma garantia para os títulos. Também ficou acordado que a empresa ofereceria novos termos econômicos e uma nova assembleia seria realizada, dentro de 90 dias, para aprovar a reestruturação da dívida. 

O prazo se encerrou em 5 de dezembro, sem avanços. “Não houve negociação efetiva”,  diz uma fonte próxima aos debenturistas.

Dentro desse período, a companhia também confirmou as expectativas de credores estrangeiros e deixou de pagar US$ 23,7 milhões em juros para os bonds. As negociações dessa tranche, que envolve US$ 530 milhões, vêm sendo tocadas em paralelo. Até agora, não houve pedido de execução da dívida. 

A Unigel vem tentando vender ativos para reforçar o caixa. Na semana passada, anunciou a venda de uma operação de chapas acrílicas no México, por valor não revelado. A companhia também busca um sócio estratégico para seu projeto de hidrogênio verde e tem conversas em curso com a Petrobras em torno desse tema e para viabilizar a produção de fertilizantes nitrogenados no país.

Exame, 14/12/2023

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