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Galvani trava disputa com controladora Yara na Justiça

De acordo com o site Valor, Três anos depois de vender 60% do seu capital para a norueguesa Yara por US$ 318 milhões, a Galvani, fabricante brasileira de fertilizantes fosfatados, iniciou uma disputa judicial com sua controladora, alegando que cláusulas do acordo de acionistas estão sendo desrespeitadas. 

Um dos pontos descumpridos, segundo a queixa, está relacionado ao Projeto Salitre, de produção integrada de fosfatados em Patrocínio (MG), e que foi o maior atrativo para a multinacional Yara – que ainda não produzia fosfatados no Brasil – comprar as ações da Galvani. 

Pelo acordo, os representantes da família Galvani ficariam à frente do projeto após a venda das ações, mas desde o início de dezembro, os irmãos Rodolfo Galvani Júnior e Roberto Galvani foram afastados, segundo fontes familiarizadas com a disputa, que corre na 2ª Vara Empresarial e de Conflitos de Arbritagem de São Paulo e está sob segredo de Justiça. 

Num comunicado enviado a funcionários e fornecedores no dia 4 deste mês, ao qual o Valor teve acesso, a Yara informou que os irmãos foram afastados “no contexto de fatos ocorridos durante a gestão do projeto para assegurar a elevação dos padrões de segurança, sobretudo após os dois acidentes fatais”. 

De acordo com as fontes familiarizadas com a disputa, houve dois acidentes fatais no local onde está sendo desenvolvido o Projeto Salitre, contudo, os responsáveis pela segurança não foram afastados, apenas os irmãos Galvani. O afastamento foi decidido depois de uma comissão, organizada pela Yara, investigar as causa do acidente. Os acionistas brasileiros alegam, por seu lado, que as normas de segurança foram estabelecidas pela Yara e têm sido obedecidas. Segundo as mesmas fontes, uma auditoria independente foi contratada para avaliar a questão. 

No comunicado aos funcionários e fornecedores, a Yara informou ainda que a participação acionária dos Galvani, seus direitos como acionistas e o assento no conselho de administração na empresa foram mantidos. “A gestão do Projeto Salitre passa a ser da Galvani, sob liderança interina de Gustavo Horbach, gerente de projetos, com reporte a Lieven Cooreman, CEO da empresa [Galvani]”. 

Desde o começo de 2014, a Galvani buscava um parceiro para conseguir levar adiante projetos como o Salitre, o Angico, na Bahia e o Santa Quitéria, no Ceará, que demandavam investimentos ao redor de US$ 1 bilhão. A Yara, que já era na época a maior misturadora de adubos (fabricante de produtos finais) do país, com uma fatia de 25% do mercado, queria crescer em produção de fosfatados. Então, em agosto do mesmo ano, as empresas anunciaram a transação, fechada por US$ 318 milhões, sendo US$ 132 milhões envolvendo negócios já existentes e o restante relativo a projetos de mineração e produção. 

Na época, as companhias estimaram que a produção de fertilizantes fosfatados da Galvani sairia de 1 milhão para até 4 milhões de toneladas em 2019. Atualmente, juntas, produzem em torno de 2 milhões de toneladas. A Yara é uma das maiores empresas do setor do mundo, com receita de US$ 11,4 bilhões em 2016, 28% originados no Brasil. 

As mesmas fontes familiarizadas com a negociação afirmam que uma das exigências contratuais da Yara era que os projetos não saíssem mais caros que o inicialmente orçado pela Galvani. Diante disso, segundo as fontes, o acionista brasileiro deu, voluntariamente, como garantia o valor recebido na transação e sua participação remanescente de 40%, que poderia ser entregue num eventual estouro do orçamento. Mas os Galvani exigiram que a família fundadora tocasse os projetos. 

No processo contra a Yara, o acionista minoritário alega ainda que a sócia controladora – que tem opção de compra da fatia de 40% restantes em 2023 – tenta “desvalorizar a participação da família Galvani” na empresa. Hoje, o diretor financeiro – Danilo Casalino – e o presidente da Galvani são indicações da Yara. 

Conforme apurou o Valor, os acionistas brasileiros alegam no processo que o controlador estaria optando por empréstimos mais caros em bancos privados em detrimento de uma linha pré-aprovada com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) ao redor de R$ 570 milhões. A opção a esses empréstimos de curto prazo apresentada pelo controlador, dizem as fontes, seria a busca de recursos com a própria Yara, o que depreciaria a participação dos Galvani ou mesmo anteciparia a saída da família da empresa. 

 

Valor, 27/12/2017

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