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Problemas na safra 2023/24: produtores rurais seguram compra de fertilizantes

Os problemas com a safra de verão 2023/24 e a queda nos preços da soja e do milho fizeram os produtores rurais brasileiros segurar não só a venda da produção, mas também a compra de fertilizantes para a próxima temporada.

Fontes do setor consultadas pelo Valor afirmam que o ritmo de comercialização do insumo aumentou entre março e abril, mas ainda há atraso. Uma revenda de insumos agrícolas que cobre o Estado de São Paulo informou que as vendas estavam cerca de 30% abaixo do esperado para a região até o fim de abril e que os produtores estavam mais concentrados em pagar negociações e dívidas contraídas para o plantio de soja e milho safrinha e menos na aquisição de adubo para o próximo ciclo.

Segundo a norueguesa Yara, que estava presente na Agrishow, há um atraso de 10 pontos percentuais na comercialização deste ano. Nos quatro primeiros meses de 2024, o mercado comprou cerca de 40% do volume de fertilizantes esperado para o ano, ainda abaixo dos 50% vistos no mesmo período de 2023.

“Muitos produtores têm apostado na redução do preço do fertilizante e no aumento das commodities agrícolas. Mas, é importante ressaltar que esse cenário pode criar uma pressão logística para atender a janela de aplicação, devido às dimensões continentais do Brasil, gargalos conhecidos do setor e o volume representativo que se espera para o ano”, afirma Guilherme Schmitz, diretor de desenvolvimento de mercado da Yara Brasil.

Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic, que também esteve em Ribeirão Preto, avalia que a conjuntura atual é preocupante. A razão principal é a possível pressão que uma entrega concentrada de fertilizantes pode causar na infraestrutura logística do Brasil. “O país sofre com gargalos logísticos, os preços de fretes vão subir, haverá filas de portos, custo maior de demurrage, que também vai subir”, ele projeta, considerando um cenário complicado de entregas.

O executivo lembra que há um ingrediente a mais a ser considerado atualmente: a geopolítica, sobretudo em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia. O risco de impacto nos preços e de abastecimento cresce à medida que aumenta a tensão entre os dois países.

“O risco existe, não é tácito e factível, mas, se por uma questão de guerra, eventualmente [a Rússia] cortar o fornecimento de 35% do cloreto global, vai dar problema. Se durar uma semana, é possível administrar. Um mês, não. E o produtor não poderá ser ressarcido porque é uma situação de força maior, de guerra”, diz Monteiro. O alerta da indústria está relacionado à dependência do Brasil em importar cerca de 85% dos fertilizantes usados nos campos brasileiros.

Globo Rural, 06/05/2024.

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