Novas Tecnologias

Pesquisa produz fertilizante com esgoto

 

O que sai das nossas casas e vai para o esgoto? A água que foi usada para lavar louças, roupas, tomar banho e na descarga do vaso sanitário. Essa é a parte que torna o esgoto mais rico. Ali estão proteínas, aminoácidos e sais minerais como nitrogênio, fósforo e cálcio dos alimentos que comemos.

 

Depois de percorrer os canos da cidade e chegar à estação de tratamento, os resíduos são separados em líquidos e sólidos. Em Uberlândia, a parte líquida passa por um tratamento e é lançada no Rio Uberabinha. A sólida forma um lodo que é enviado ao aterro sanitário. Segundo o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), são 2,7 milhões de metros cúbicos de esgoto tratados por mês na cidade.

 

Os pesquisadores da UFU fizeram uma parceria com o Dmae e levaram amostras desse esgoto sólido para a Fazenda do Glória, área experimental da universidade em Uberlândia. “Lá a gente desenvolveu um protótipo para fazer tratamento em pequena escala, mas que dá para fazer em larga escala. Nós utilizamos uma caixa de alumínio coberta com vidro e a massa [lodo de esgoto] a gente misturou com cal hidratada [30%]. Essa cal inativa microrganismos através do aumento do pH [escala de acidez ou basicidade de uma solução]. Coberta por vidro, a própria insolação ajuda”, explica o professor Camargo.

 

“Passado esse período, esse material já está pronto para ser utilizado como fertilizante. Só que, para usar puro, ia ter que jogar não sei quantas toneladas por hectare. Então a gente pega essa massa tratada e mistura com fertilizante mineral, que é altamente concentrado”, completa o orientador.

 

O fertilizante organomineral em forma de pélete é um granulado que reúne a parte orgânica, o lodo de esgoto tratado, com a parte mineral, formada por ureia, cloreto de potássio e ácido bórico. A peletização foi feita em uma empresa de Uberlândia. Nesse formato, pode-se controlar a liberação do nutriente no solo e diminuir as reações como volatilização da ureia, erosão do nitrogênio, fósforo e potássio, lixiviação do nitrogênio e potássio e fixação do fósforo.

 

“Você tem menor contaminação do lençol freático e maior economia de nutrientes que as fontes são finitas. Por isso que ela [a tecnologia desenvolvida na UFU] é sustentável: por usar um passivo ambiental [lodo de esgoto] e reduzir perdas dos nutrientes que normalmente acontece quando você está utilizando adubação padrão”, afirma a professora Lana.  “A gente pode garantir: não tem odor nenhum mais quando chega nesse aspecto e os riscos biológicos são nulos”, completa Gonçalves.

 

O fertilizante foi testado na plantação de cana-de-açúcar para produção de etanol, em uma área experimental de 1,75 hectare da Companhia Mineira de Açúcar e Álcool, no município de Prata (MG). Segundo Gonçalves, que fez os testes junto com o colega doutorando Emerson Moraes, os resultados foram excelentes. “Na metade da dose recomendada agronomicamente a gente já atinge praticamente os mesmos níveis de produtividade do que somente utilizando o fertilizante mineral recomendado, aquele convencional que tem no mercado”, afirma.

Diário de Uberlândia, 13/09/2018

 

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