Mina de fosfato e urânio será explorada em parceria para fertilizantes e energia

Considerado o projeto mais importante das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), o consórcio em parceria com a empresa Galvani Fertilizantes deve entrar em operação até o ano de 2029 para a exploração da jazida de Itataia, localizada no município de Santa Quitéria, no Ceará.
Após mais de 10 anos de pesquisas, uma rota tecnológica foi desenvolvida para separação de fosfato e urânio no país, o que deve beneficiar o agronegócio no Norte e Nordeste com a comercialização de fertilizante fosfatado, diminuindo a dependência pelo produto importado no Brasil. O urânio extraído ficará sob responsabilidade do governo federal, que detém o monopólio do minério no território nacional, com destinação para energia nuclear nas usinas de Angra 1 e 2.
Depois de uma década, o projeto Santa Quitéria está na fase de licenciamento e inicia nos próximos meses as audiências públicas nos municípios da região do semiárido cearense. Estudos da INB apontam que a jazida possui 99,8% de fosfato e 0,2% de urânio, com previsão de produção anual de 1 milhão de toneladas de fertilizantes, 220 mil toneladas de fosfato bicálcico para nutrição animal e 2,3 mil toneladas de concentrado de urânio.
O diretor de Recursos Minerais da INB, Luiz Antônio da Silva, lembra que o consórcio com a Galvani teve contrato assinado em 2009 e, desde então, a empresa é responsável pelos estudos e viabilização do projeto Santa Quitéria. O investimento é estimado em R$ 2,3 bilhões para construção da planta e implantação do sistema operacional.
O gerente corporativo de licenciamento, meio ambiente, gestão fundiária e direitos minerários da Galvani, Christiano Brandão, afirma que a empresa pretende atender 25% do mercado de fertilizantes fosfatado para agricultura no Norte e Nordeste e 50% da demanda nas duas regiões por fosfato bicálcico para nutrição animal.
O gerente da Galvani explicou que a rota tecnológica viabilizou a exploração do fosfato e do urânio de “forma inédita”, por meio do consórcio entre a estatal e a empresa privada, garantindo a separação dos minérios para as diferentes finalidades.
“Não existe nenhuma mina de colofanito sendo explorada no mundo e [o governo federal] precisava de um parceiro que pudesse fazer os investimentos financeiros, com interesse de estudar cientificamente e desenvolver uma rota de forma prática”, comenta. De acordo com Brandão, a planta piloto foi testada e confirmou a viabilidade econômica, ambiental e social do projeto.
“Produzimos em escala piloto tanto o fosfato quanto o urânio, perfeitamente puros para o uso. Do ponto de vista de engenharia e de desenvolvimento tecnológico, o projeto está pronto.”
O diretor de Recursos Minerais da INB, Luiz Antônio da Silva, informou que o projeto recebeu a primeira licença nuclear e que o estudo e relatório de impacto ambiental tiveram aval do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2024.
“São três licenças para cada órgão. A primeira licença nuclear, a INB obteve no meio do ano passado. A partir dessa primeira licença, as outras são complementares com informações sobre o negócio. Já a primeira licença ambiental, a chamada licença prévia, necessita da realização de audiências públicas”, explicou. A previsão é que as reuniões com as comunidades sejam realizadas a partir de março com a licença prévia emitida até o segundo semestre deste ano.
Ele destacou que a Galvani eliminou o uso de barragens de rejeitos no projeto, o que diminui o risco de acidentes. Os desastres ambientais de Mariana e Brumadinho, ambos em Minas Gerais, foram provocados pelo rompimento das barragens. A exploração do material radioativo e a segurança da população também estarão em pauta nas audiências públicas.
“A rota tecnológica para a separação dos materiais foi desenvolvida pela Galvani em uma linha sem barragens de rejeitos, que é um dos principais problemas na mineração. Essa mina será única no país”, disse o diretor da estatal. Após a fase de licenciamento, a construção da planta deve durar dois anos e meio.
O gerente corporativo da Galvani Christiano Brandão destaca que o projeto deve aumentar em 10 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do município de Santa Quitéria e quase quatro vezes o PIB da região no semiárido cearense, que receberá obras de infraestrutura rodoviária e de energia elétrica, aliada à instalação de uma adutora para fornecimento e água. Na fase de implantação, a projeção é de que 6 mil empregos diretos e indiretos serão gerados. A previsão é de 1,6 mil postos de trabalhos na fase de operação.
Gazeta do Povo, – adaptado GlobalFert, 06/03/2025.