Parque industrial de Cubatão sofre esvaziamento de empresas de fertilizante
A decisão da Usiminas de encerrar a produção de aço em Cubatão (SP) no fim deste mês já causa impactos na economia da microrregião de Santos, que perdeu em 2015 o maior número de vagas de trabalho desde 2002, quando começou a série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em 2015 foram fechados mais de 13 mil postos na região e tudo indica que neste ano o cenário vai piorar, com o efeito em cascata da Usiminas.
Empresas cujos negócios dependem da usina vão fechar unidades industriais na vizinhança. A partir de abril, a Votorantim encerra a produção de cimentos no município devido à falta de escória, subproduto do aço utilizado na fabricação do insumo. A fábrica, ao lado da Usiminas, passará a operar como centro de distribuição para o cimento ensacado da marca Votoran, mantendo a distribuição para o mercado regional. O cimento a granel será fornecido por outras de suas fábricas. Cerca de 30 funcionários serão demitidos.
A InterCement, do grupo Camargo Corrêa, outra cimenteira situada na Baixada Santista, também usa escória da Usiminas. A empresa diz que o estoque garante a produção de cimento “a médio prazo”, mas avalia importar escória quando a reserva terminar, entre outras alternativas. A InterCement não revelou se e quantas demissões haverá.
Devido ao baixo preço internacional do aço e à queda da demanda doméstica, a Usiminas vai utilizar a usina cubatense apenas para laminação de chapas. A paralisação completa da produção de aço – a usina tem capacidade para fazer 4,5 milhões de toneladas ao ano – ocorrerá até o fim de janeiro, a partir de quando é esperado um efeito dominó de fechamento de vagas na região. A antiga Cosipa é, ao lado da refinaria da Petrobras, a maior empregadora da região.
A siderúrgica estima que serão demitidos 4 mil trabalhadores – dois mil diretos e dois mil indiretos. Já a regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em Cubatão calcula uma perda de pelo menos 5 mil vagas no primeiro semestre, 12,5% dos cerca de 40 mil postos do polo industrial.
O Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista traça um cenário mais desalentador. Diz que o número pode chegar a 9 mil, com perdas que vão atingir de grandes a pequenas empresas, como as firmas que fazem o transporte diário dos trabalhadores e fornecedores de alimentos.
“É um número grande”, diz o diretor titular da regional do Ciesp, Valdir José Caobianco, segundo quem a desindustrialização nacional afeta primeiro a indústria de base, como as de Cubatão, que competem com empresas estrangeiras que já trazem a matéria-prima processada. Para reanimar o polo industrial de Cubatão, ele defende incentivos de longo prazo, como redução de custos fixos (energia elétrica e gás), e queda do ICMS. Uma saída, diz, seria apostar na cadeia integrada produção-processamento-exportação.
O parque industrial de Cubatão vive um esvaziamento nos últimos anos. Um dos setores que vêm sofrendo é o de fertilizantes, devido, entre outros, à alta alíquota do ICMS. “Nos últimos 12 meses as antigas unidades da Yara e da Mosaic fecharam. O custo do ICMS é alto, as empresas vão para outros estados”, diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fertilizantes da região, Herbert Passos Filho.
E mais uma empresa vai reduzir a marcha. A filial da Fertilizantes Heringer vai encerrar a atividade de mistura de fertilizantes no município e transferi-la para Paulínia (SP). Procurada, a Heringer disse apenas que a medida se deve aos “atuais volumes de entregas de fertilizantes menores do que os do ano anterior”.
Para Alcindo Gonçalves, cientista político e professor do programa de mestrado e doutorado em Direito da UniSantos, 2016 será “muito problemático” para a Baixada Santista, já frustrada com o estouro da bolha imobiliária devido à especulação em torno do pré-sal da Bacia de Santos.
A atividade portuária, mesmo com a expectativa de aumento de cargas e os novos arrendamentos, não será suficiente para contrabalançar o efeito local da Usiminas e o nacional da recessão, diz. “A construção civil não retoma, nem com um milagre. O setor público é outro que está em crise profunda”.
Valor Econômico, 04/01/2016