Logística

Porto do Rio Grande prevê operação recorde em 2014

O principal complexo de escoamento de cargas no Estado deve fechar o ano com novo recorde. O superintendente do porto do Rio Grande, Dirceu Lopes, projeta que a estrutura movimentará em 2014 aproximadamente 34,5 milhões de toneladas, puxadas principalmente pelas operações com soja. “É um marco histórico no processo portuário em Rio Grande”, enfatiza.

No ano passado, o volume trabalhado ficou em torno de 33 milhões. Os números demonstram o bom momento vivido pela agricultura nos últimos 12 meses. Outro item que chamou a atenção pelo desempenho foram os fertilizantes. Lopes admite que a perspectiva era de atingir um resultado superior, em torno de 35 milhões de toneladas, mas a movimentação do trigo não correspondeu à expectativa. “Assim mesmo, é um bom ano”, comemora o superintendente.

Sobre 2015, Lopes adianta que já em janeiro começará a dragagem do porto, na qual serão aplicados cerca de R$ 350 milhões pelo governo federal. Com a ação, serão retomados os calados de 18 metros (fora dos molhes da barra) e de 16 metros (no superporto), além da realização de obras de correção. “Teremos uma melhoria importante na entrada dos molhes da barra, a qual terá uma rampa para que o navio possa entrar com uma velocidade maior, assim como uma bacia de evolução (espaço para fundear e manobrar embarcações) para navios com 365 metros”, destaca. A dragagem, que será de aprofundamento e limpeza, deverá levar em torno de 14 meses. Hoje, o porto está operando com um calado de 15 metros (na região dos molhes) e de 14 metros (no superporto). A profundidade diminui, principalmente, devido ao assoreamento.

O coordenador da comissão de infraestrutura do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado (Setcergs) e diretor-presidente da Navegação Taquara, Frank Woodhead, afirma que boa parte do resultado do porto neste ano deve-se à movimentação de soja. “Não deixa de ser uma decepção, porque o porto poderia ter condições operacionais melhores com a dragagem do canal, sinalização e os terminais de granéis, dos quais pouco se exigiu quanto ao sistema de carga e descarga”, comenta o dirigente. Sobre a previsão do começo da dragagem em janeiro, Woodhead se diz um “São Tomé”, o empresário precisa ver a draga funcionando para acreditar. O dirigente recorda que vários empecilhos burocráticos impediram que medidas como essa fossem tomadas anteriormente.

O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, acrescenta que no Sul do Mercosul (em relação aos portos de Montevidéu e Buenos Aires), Rio Grande é o único complexo com condições para chegar a uma profundidade de 18 metros, que é uma demanda das grandes embarcações. “Se for levada em conta a potencialidade que possui, em termos de calado, de acesso por terra e por água, e se for promovida a melhoria da infraestrutura com uma dragagem permanente, terá uma competitividade excelente”, ressalta o dirigente.

Uso da hidrovia aprimoraria sistema logístico estadual

Apesar de a malha hidroviária gaúcha propiciar a ligação do porto do Rio Grande com várias regiões do Estado, o recurso ainda é subutilizado. O presidente da ABTP, Wilen Manteli, defende que o Rio Grande do Sul tem condições de dar um salto no aproveitamento da hidrovia para alcançar o principal porto local.

O dirigente revela que a associação com outras entidades, pretende promover um estudo com o objetivo de apontar as áreas próximas às hidrovias possíveis de contarem com a instalação de polos produtivos e outros empreendimentos. Também está sendo tratada com a Fiergs uma viagem empresarial ao Mississipi, Tennessee e a outros rios norte-americanos para observar como são exploradas naquele país as áreas lindeiras aos rios.

Manteli acrescenta que nos Estados Unidos atuam agências, administradas por diretores profissionais, que buscam empreendedores para se instalarem na região com armazéns, terminais etc. “Se a companhia for séria e tiver um projeto viável, a agência até financia essa empresa, claro que quando começar a operar pagará uma espécie de arrendamento pelo espaço”, explica o presidente da ABTP. Outra vantagem dessas agências apontada por Manteli é que a alternância dos governos não implica necessariamente mudança na diretoria delas.

O dirigente salienta que lá a dragagem dos rios é feita de forma permanente, enquanto no Brasil “é um parto”. Manteli sustenta que é preciso mudar a política nacional quanto às hidrovias, adotando uma maior ousadia. Tanto o estudo da ABTP como a viagem aos Estados Unidos deverão ocorrer no próximo ano. O coordenador da comissão de infraestrutura do Setcergs e diretor-presidente da Navegação Taquara, Frank Woodhead, concorda que é necessário incentivar a utilização da via fluvial para chegar ao porto do Rio Grande. Segundo o dirigente, as empresas de navegação no Estado operam com ociosidade. Entre os problemas que causam esse cenário, indica o empresário, é que os terminais não “fizeram o dever de casa” e atuam de forma muito lenta. Outro empecilho é a sazonalidade, pois como a soja, um dos carros-chefes da demanda hidroviária, tem a safra escoada em cerca de seis meses, gera uma folga no restante do ano. A situação agrava-se pela falta de condições de armazenagem.

Jornal do Comércio, 26/12/2014

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